sábado, 23 de dezembro de 2017

Pilha ou lanterna? – Um apontamento sobre a interculturalidade

            ‒ Olá! Queria uma pilha!
            ‒ Uma pilha ou uma lanterna? – retorquiu a minha vizinha chinesa, que há bastante tempo se encontra em Portugal.
            Claro: dei-lhe os parabéns e agradeci a lição; de facto, eu queria era uma lanterna.
            De regresso a casa, pensei como tinha sido agradável essa correcção, pelo que significava, de facto: a integração plena, ou quase, de alguém que vem do Extremo Oriente e que não hesita em aprofundar os seus conhecimentos linguísticos, para melhor se sentir no ambiente que a recebeu.
            Foi no passado dia 15 de Novembro que o Agrupamento de Escolas a cujo Conselho Geral pertenço fez a cerimónia de distribuição dos prémios para os melhores alunos e dos diplomas de mérito. Comentei, a dado momento, para um dos professores:
            ‒ Que nome estranho!
             É russa, está cá há três anos e é uma das melhores alunas, trabalha imenso!
           E os nomes ‘estranhos’ foram-se sucedendo na sessão, sempre muito aplaudidos pelos companheiros, a denunciar um relacionamento invejável.
            Dois dos meus netos frequentam, este ano, uma escola dos arredores de Londres. Logo na segunda semana, a professora pediu ao Marco que ensinasse aos colegas (na escola há-os de 40 nacionalidades e professores de 17!...) como se dizia em português isto e aquilo, objectos em uso na sala de aula. E ainda não tinha passado um mês de actividades escolares e já se programava o dia internacional, em que cada família preparava um prato típico do seu país e o disponibilizava à comunidade escolar, em total confraternização.
            Fui docente na Universidade Lusófona e tive ocasião de preparar com um colega, a 20-01-2012, o Seminário «Ambiente e Património… Ao Encontro de Culturas». E foi mui agradável de ver estudantes das mais diversas origens partilharem costumes, gastronomia e até o património paisagístico da sua terra. Fez-me lembrar os anos em que estive como coordenador do Programa ERASMUS / SOCRATES, onde a comunhão de culturas e de línguas constituía elo primordial.
            No contacto com o Outro, acabamos por nos enriquecer, no sentir pleno de que a Cultura se faz da amálgama de muitas culturas, cuja identidade, não obstante, se mantém – qual manta de retalhos, onde cada pedacinho de pano, com o seu colorido e o seu desenho, contribui para a real beleza do conjunto!
                                                                                              José d’Encarnação

Publicado na revista Ponto & Vírgula, da Escola Calazans Duarte (Marinha Grande), Dezembro de 2017, p. 19, acessível em http://gic.age-mgpoente.pt/. Integrou a ediçção nº 2785 do Jornal da Marinha Grande, de 14.12.2017. A revista teve como tema fundamental «Construir a Interculturalidade».

Sem comentários:

Enviar um comentário