terça-feira, 5 de dezembro de 2017

À margem de um jantar

             Quando um estudante no final do curso se abeirava de mim para me questionar acerca do que iria fazer, costumava perguntar-lhe o que é que gostaria de fazer. Perante a resposta, havia sempre uma série de «receitas» hauridas da experiência…
            Uma das tónicas mais frequentes era: aparece! Queres trabalhar em Arte? – Frequenta inaugurações de exposições e observa como tudo se processou e não deixes de entabular diálogo com o artista, com o promotor da iniciativa. Gostarias de ser relações públicas de uma entidade cultural? Vê com atenção a agenda cultural do município em que vives e aparece e vê como se faz.
            Ainda hoje é meu princípio procurar aproveitar as oportunidades que me surgem para culturalmente me enriquecer. Com os erros nossos e alheios se vai aprendendo. Custa-me ouvir, na manhã da Antena 1, «O Fio da Meada» monocordicamente ‘lido’ por Susana Moreira Marques, quando deveria ser ‘dito’ e ter alma dentro. Custa-me que não se compreenda que a rádio tem exigências vocais e não se pode dizer aaãã… a todo o momento, antes de se começar uma frase. Aprende-se com a prática.
            A 11 de Novembro, tive o privilégio de partilhar a mesa, no jantar comemorativo dos 30 anos da AMI, com pessoas que, nesse breve tempo de uma refeição, acabaram por me ensinar muito. Com Fernanda Freitas, a jornalista que, durante quase sete anos, teve na RTP 2 o programa diário «Sociedade Civil» (veja-se o texto de Isabel Canha em: https://executiva.pt/fernanda-freitas-empresaria-improvavel/), mas que abraçou de mãos cheias a causa do voluntariado, falei precisamente desse ‘saber ler e contar’, porque ora uma das suas actividades é ler histórias para crianças hospitalizadas. Com o capitão-de-fragata, Maurício Camilo, comandante do navio-escola Sagres, soube que, no regresso do Cabo da Boa Esperança, se navega à vista de costa e é precisa uma atenção redobrada e disse-me do que era esperar por vento de feição na zona das calmarias... Com Maria do Céu Garcia, mãe de Diana Gomes da Silva, que é piloto de aviões comerciais e faz acrobacia aérea, fiquei a saber que, por iniciativa da filha, todas as companhias aéreas incluem agora módulos de acrobacia no curso de pilotos, porque aí aprendem a navegar numa emergência sem aparelhos; e contou-me que o desastre do avião da Air France, que caiu no Atlântico, no meio de uma tempestade, em 31 de Maio de 2009, poderia ter sido evitado se o piloto tivesse essas noções de acrobacia, que permitem aperceber-se melhor se o aparelho está a descer ou a subir… Quem diria? Realmente, vendo a Diana a fazer mui arriscados ‘loopings’ no seu avião vermelho, para além do aplauso, só nos apetece exclamar: «Esta menina é louca!». Mas não é.

                                                                                  José d’Encarnação
 
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 720, 1 de Dezembro de 2017, p. 11.
Diana Gomes da Silva e o seu avião vermelho, de acrobacias!
 

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