quarta-feira, 19 de julho de 2017

Joaquim Magalhães, o homem

            Hesitei, claro, no título a dar a este ligeiríssimo apontamento, que inicio, confesso, já com alguma emoção. Primeiro, porque tendo privado pouquíssimo com o «homem», foi o suficiente para se ter criado, de repente, quase instantaneamente, uma empatia que não se consegue explicar. Nasce, pronto. E a gente não sabe porquê. Ou, mais tarde vim a descobrir, talvez por havermos pertencido ao mesmo grupo sanguíneo, o O, do dador universal; mais ainda o meu, que sou de Rh negativo.
            Não li ainda o livro, porque acho que vou precisar de um recanto bem aconchegado para nele me embrenhar. Não quero, porém deixar de já lhe fazer referência, depois do abraço grato a Romero Magalhães por ter tido a gentileza de mo fazer chegar às mãos.
            Falo, já se vê, de Joaquim Maglhães, o Homem, o Mestre, o descobridor do Aleixo. Seu filho, o Professor Romero Magalhães, catedrático de Economia na minha Universidade de Coimbra, natural de Loulé (1942), acaba de publicar «Uma Escrita na Primeira Pessoa» (Âncora Editora, Dezembro de 2016), parte da correspondência de seu pai, anotando-a de tal forma que, afinal, podemos dizer que estamos perante não uma obra epistolográfica mas, de certo modo, autobiográfica, porque, através dos seus escritos, penetramos no pensamento e na obra deste professor do Liceu (como antes se dizia), que em Faro viveu boa parte da sua docência.
            Ainda não li o livro. Saboreei, porém, o prelúdio «O dador universal», da autoria de Lídia Jorge, que foi sua aluna. Li a epígrafe, retirada de uma das passagens do livro e que, não duvido, Romero Magalhães escolheu, por lhe parecer que resumia, à perfeição, o que fora a personalidade de seu pai:
 
            «… é de pura divulgação o meu trabalho aqui [em Faro].
            Não passo de um “intérprete”, de um intermediário com vontade de ser um “despertador”. E, muitas vezes, me interrogo sobre a utilidade de uma tal acção. Em geral, suponho-a positiva e é essa suposição que por agora me vai mantendo».

            São 172 trechos (digamos assim), alinhados cronologicamente, que Romero Magalhães mui habilmente entendeu como uma composição musical e, por isso, os dividiu em andamentos: abertura, allegro, andante, largo e «grand finale».
            Naturalmente, havemos de voltar ao livro. Tem que ser!

                                                                                              José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 248, 20-07-2017, p. 11.

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