terça-feira, 2 de agosto de 2016

A exposição sobre o Rei Lear

            Comemora o Teatro Experimental de Cascais 50 anos de ininterrupta actividade.
            Melhor do que a ninguém, caberá a João Vasco, que superiormente incarnou o Rei Lear – fazer a história desse meio século em prol do Teatro entre nós; mas, pouco a pouco, vão dando a conhecer-se parcelas desse património.
            Assim, inaugurou-se, no passado dia 30, no Espaço-Memória, mais uma exposição retrospectiva. Neste caso, deu-se relevo à documentação relativa à representação do Rei Lear, peça de William Shakespeare que Carlos Avilez levou à cena na 2ª metade de 1990, com João Vasco no protagonista, numa tradução de Ricardo Alberty, insuperável cenografia de José Manuel Castanheira, figurinos do cascalense José António Tenente (então a dar os primeiros passos na sua hoje brilhante carreira de estilista), e música original de Carlos Zíngaro.

Ecos sobre a peça em 1990
            Tinha-se por hábito, então, no Jornal da Costa do Sol publicar sempre uma nota crítica dos espectáculos. Aliás, era também essa uma forma de continuarmos a manifestar o nosso inteiro apoio a uma iniciativa cultural que, mal compreendida por muitos, costumava ser mais vilipendiada do que aplaudida. Gostava, confesso, de ainda ter oportunidade de reunir em volume essas apreciações: primeiro, porque correm o risco de se perderem; depois, porque constituem, na verdade, ecos vivos de uma actividade ímpar na sociedade de então. Coincidiu, porém, essa representação com um período conturbado da história do jornal (eu vira-me forçado a pedir a demissão de director) e, sobre a peça Rei Lear, não se fez qualquer apreciação crítica. Na página 7 da edição de 20 de Setembro de 1990, como que em título a legendar foto, apenas se escreve:
 
  • Uma peça a não perder
  • Um fabuloso cenário surpreendente
  • Uma extraordinária criação de João Vasco, bem secundado por toda a Companhia
           Na edição de 11 de Outubro (p. 7), noticia-se que, nos dias 17 e 18 seguintes, o Teatro Experimental de Cascais irá levar a Bayonne «a peça que tanto sucesso tem alcançado», noticiando-se que, «no dia 7, perante numeroso público, o «Rei Lear» foi mais uma vez um êxito, tendo os artistas sido aplaudidos durante longo tempo e de pé pela assistência, que assim tributou uma justa ovação aos artistas, com especial destaque para João Vasco que, magistralmente, desempenha a figura do rei».
            Foi, nesse dia 7, descerrada, no átrio do teatro, a placa de homenagem a Manuela de Azevedo, também ela incondicional entusiasta da actividade do Teatro Experimental de Cascais. E, a 13 de Novembro, no âmbito das comemorações dos 25 anos (a companhia estreara-se a 11 de Novembro de 1965, no Teatro Gil Vicente, com a peça «Esopaida»), recebeu o Teatro Experimental de Cascais a medalha de mérito municipal, distinção com que João Vasco foi agraciado também.

A exposição
            Meio século é, de facto, muita vida, muito palco, muita experiência! E, sobretudo, muito saber transmitido, pois pelo Teatro Experimental de Cascais – seria escusado dizê-lo – passaram centenas de actores, que, sob orientação de Carlos Avilez e de João Vasco, ali deram os primeiros passos de mais ou menos promissora carreira.
            Para além das pessoas e da experiência, há, ainda, a documentação. Pensa-se, amiúde, em museu, como lugar privilegiado de exposição. Museu é, porém, palavra técnica, que, hoje, de tão usada, pode ter perdido o significado original; e, por outro lado, um museu no verdadeiro sentido da palavra exige condições estruturantes e de equipamento nem sempre fáceis de conseguir e, sobretudo, de financeiramente manter.
            Optou, pois, o Teatro Experimental de Cascais por ir mostrando aos poucos este seu invulgar espólio. E a mostra ora inaugurada merece, de facto, demorada visita. Atente-se, de modo especial, na maqueta do cenário, que foi, na altura, uma enorme pedrada no charco. Nós, os espectadores, sentávamo-nos em bancadas de madeira, ao redor, no alto; as cenas passavam-se em baixo, na lama... Recordo que assistiu à estreia o Ministro da Educação, Roberto Carneiro, com a sua já então numerosa prole. E foi nessa noite de estreia do Rei Lear que, em conversa, nasceu o promissor projecto da Escola Profissional de Teatro de Cascais!…
            Muitos motivos, portanto, para – numa das próximas tardes (das 15 às 19 h.) de sábado ou domingo – dar uma saltada ao Espaço-Memória, que fica em frente da praça de táxis do Jumbo, em Cascais. Ficará maravilhadamente surpreendido!

                                                                     José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal¸02-08-2016:

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