sábado, 9 de julho de 2016

Os ecos e os conselhos

            Ousei incitar os leitores, na passada edição, a servirem-se do jornal local para darem notícias e, até, a comentarem os sempre saborosos e oportunos textos que Noticias de S. Braz veicule, nomeadamente sobre a história e os costumes de antanho.
            Fiquei, por conseguinte, contente por também a Josélia Viegas ter agradado a evocação que Manuel Brito Guerreiro fizera, na edição de Março, do hábito de armar aos pássaros, uma evocação a que eu próprio tivera ensejo de me referir na edição seguinte (de Abril), mas, essa, Josélia Viegas já não leu. Por sinal, até foi bom, porque o cotejo dos três depoimentos mostra a sua complementaridade.
            E, dentro desse espírito, não posso deixar de comentar o poema de Tito Olívio (olá, Amigo!), onde o Poeta proclama que doravante se recusará a dar conselhos, «pois quem ouve só mostra obstinação». Acha que o valor do conselho depende da ‘nomeada’ de quem o dá; aliás, conclui, a alternativa pode ser vender conselhos e não dá-los, pois só ao que é vendido se atribui valor.
            Como professor, tenho a sensação (posso estar enganado, claro!) de que os meus «conselhos» (não dou conselhos, prefiro apresentar sugestões) são habitualmente acatados. Todavia, as sugestões dadas como cidadão caem, a maior parte das vezes, em saco roto e nem obtêm resposta!
            De facto, amigo Tito Olívio, sou forçado a dar-lhe razão: é melhor vender que dar!

                                                       José d´Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 235, 20-06-2016, p. 11.

Post-scriptum: A Universidade da Experiência
Cumpre-me, no momento em que divulgo aqui esta breve crónica, saudar a memória de Manuel Brito Guerreiro, que mui recentemente nos deixou. Segundo o provérbio indiano muito conhecido, atribuído a Tierno Bokar, «um velho que morre é uma biblioteca que arde»; a Brito Guerreiro se pode aplicar bem este axioma, embora ele tenha tido sempre a disponibilidade de nada guardar para si das recordações de antanho e nos ter traçado, nas crónicas que foi publicando - e outras estão ainda por publicar -, o que a sua experiência lhe foi ditando ao longo da vida. Ficamos-lhe muito gratos. E não será despropósito contar o que soube, no passado fim-de-semana (2 e 3 de Julho de 2016), em conversa com uma amiga espanhola: está a considerar-se cada vez mais a hipótese de se deixarem de parte as designações «Universidade Sénior» ou «Universidade da 3ª Idade» para se preferir «Universidade da Experiência». Na verdade, nada mais oportuno: ali se trocam experiências, ali mutuamente nos enriquecemos na partilha de conhecimentos! Que descanse em paz, Manuel Brito Guerreiro! Estamos-lhe gratos pelas experiências que tão amavelmente não hesitou em connosco partilhar! - 2016.07.09

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