terça-feira, 21 de junho de 2016

«Escrita Rouca», de Edgardo Xavier

           Apresenta-se Edgardo Xavier como «poeta e escritor». Nem sempre o foi, como é natural, e a galeria do Casino Estoril ainda expõe, de quando em vez, algumas das suas fortes telas. Aliás, foi como colaborador do Casino e ligado às artes plásticas que o conheci, já nem sei há quanto tempo!
            Mas Edgardo Xavier faz questão também, neste livro de poemas recentemente apresentado – Escrita Rouca, edição de Insubmisso Rumor, Junho de 2016 –, de se dizer natural do Huambo (Angola, 1946) e de proclamar que «tendo vivido em vários locais do território de Angola, cresceu em liberdade plena e cultivou a amizade como um valor fundamental». Cultivou e cultiva! E escrever isto aos 70 anos e em meados de 2016 detém um significado profundo!...
             Declara também que «cursou seis anos de Medicina» e se «destacou como crítico de artes plásticas (A. I. C. A., Portugal) e artista plástico». Pronto: uma personalidade de múltiplas experiências, que ora decisivamente se voltou para a Poesia e nos vem brindando, nos últimos tempos, com praticamente um livro por ano.
            Desta Escrita Rouca, por onde perpassa do princípio ao fim, num vívido diálogo lírico, amoroso, com a Mulher Amada (e ponho com maiúsculas porque se impõe!), os críticos literários dirão o que eu nunca saberei dizer com palavras. Quero, porém, garantir, para já, que o livro é – também! – um poderoso manifesto pela necessidade de se continuar a publicar em papel: a textura escolhida pela editora e a maquetização de Carla Pinto falam por si. Lidos no Facebook, estes poemas não têm a força que do papel impresso se desprende! Não.
            Não resisto, porém, a agarrar (ia a escrever «ao acaso», mas eu não acredito no acaso…) nos quatro últimos versos de «Primeiro Amor». Sim, que poderá dizer-se do primeiro amor que não soe a banalidade, a frase feita? Edgardo Xavier termina assim esse poema:
            «Amar era doce. / Amar doía. / Era como beijar cardos e sangrar sorrisos. / Eu crescia».
            Que retrato mais fiel se poderia traçar?

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, 21-06-2016:

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