sexta-feira, 1 de abril de 2016

As lições dos animais

             Não há quem possua animais de companhia ou tenha por mui saudável hábito disponibilizar um pouco do seu tempo a observar a Natureza que não traga no alforge mil e uma histórias edificantes a contar. E a palavra «edificante» tem, aqui, esse significado moral que lhe deve ser atribuído: o de contribuir para tornar melhor o edifício das nossas vidas e da sociedade.
            Para além do que é mais comum, aperceberem-se das mudanças do tempo, organizados como estão para seguirem o ciclo anual, há «atitudes» dos animais que nos deixam a pensar seriamente: como tudo seria melhor se lhes seguíssemos o exemplo!...
            A observação das aves constitui hoje, também por isso, uma das inovadoras e mui aliciantes metas das iniciativas turísticas e permita-se-me que recorde que foi devido ao facto de uma linda ave ter inopinadamente entrado numa recôndita gruta da ilha Great Ábaco, nas Baamas, que eu lá fui para ajuizar da autenticidade do desenho de pretensa caravela portuguesa com a data de 1460, pois o observador foi atrás dela e deparou com esse grafito. Mas, se observarmos com mais atenção o dia-a-dia dos que mais estão connosco – o cão, o gato… – é bem possível que a serenidade se instale mais em nossa casa.
            Qual a razão desta crónica assim quase piegas?
            É que, ainda não havia os inolvidáveis filmes sobre costumes dos animais a que hoje temos acesso à distância de um clique, nem canais televisivos específicos com essa temática (que deveríamos, aliás, sugerir às nossas crianças) e já eu me deliciava com livros como Our animal neighbors, de Alan Devoe (McGraw-Hill, Nova Iorque, 1953), autor também de This fascinant animal world, de 1951, obras hoje clássicas, que, nos anos 60, eu só conseguia na Biblioteca Americana, em Lisboa.
            Essa, a razão longínqua que me levou a esta partilha de emoções há muito sentidas. A próxima prende-se com um vídeo, certamente recebido também pelos nossos leitores, disponível no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=HZO9E4ZPT-U
            A forma inteligente como aquele macaco consegue reanimar o companheiro que fora electrocutado pela descarga numa estação de caminho-de-ferro da Índia, perante o olhar estupefacto dos passageiros especados na plataforma; os seus gestos a reproduzirem, às mil maravilhas, os procedimentos que os nossos técnicos do INEM ora aprendem – deixam-nos, na verdade, surpreendidos e surge um comentário natural: nós, os humanos, ainda temos muito que aprender!

                                                                José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 682, 01-04-2016, p. 12.

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