terça-feira, 15 de março de 2016

Sentir o papel do livro, um prazer que se esvanece…

              Escreveu-me o muito prezado Colega e Amigo Silva Pina, a 24 de Janeiro de 2014:
            «Meu caro, já reparou nos novos catálogos de livros das editoras internacionais? Livros Normais, em papel, de 90 a 120 euros; livros em ficheiro que permite uma única impressão em papel branco entre 50 a 75 euros; ficheiro tipo ebook 20 a 30 euros. As bibliotecas, devido a este aumento tremendo de preços, começam a emprestar ebooks. Experimente ver nas bibliotecas, talvez o meu amigo faça uma crónica sobre este tema. Cada vez mais a tendência ocidental é de termos uma cultura elitista. Eu não consigo comprar um livro técnico por 90 euros, pelo que não me resta outra hipótese senão o formato digital».
            E recebi de novo, creio que pela quarta vez, um excelente vídeo – http://www.youtube.com/embed/Q_uaI28LGJk a fazer a publicidade de um produto que não carecia de nenhuma das modernas atenções, como verificar se tem bateria (porque não trabalha a bateria), ou se há acesso à rede da Internet (porque dela não carece)… Enfim, tão bom, tão bom e tão despojado das exigências a que hoje estamos cativos que, pouco a pouco, nos cresce irresistível desejo de… ir comprar! No final da apresentação, descobre-se a identidade desse precioso objecto: o livro… em papel!
            Muita gente confessa: «Não há como sentir o toque das páginas! É como que uma volúpia… Depois, tu voltas atrás num ápice e dá-te na veneta passar dez páginas e passas. E quedas-te, pasmado, naquele parágrafo de um saber profundo. E não ficas com a preocupação de estar a estragar a vista e não vociferas «O diabo do tablet já quase não tem bateria e está lento como burro cheio de lazeira», «Olha, agora bloqueou, o alma-do-diabo!...».
            Tem, pois, inteira razão o meu Amigo Silva Pina e há que fazer uma campanha para se conseguirem edições «técnicas» mais acessíveis a quem delas precisa.
            Confesso que muito me facilita a vida ter uma quantidade infinita de livros antigos e da minha especialidade disponibilizados na Internet, mormente por iniciativa da Google; eu próprio não hesito em disponibilizar os resultados do que vou investigando e escrevendo. Mas também confesso que, muito amiúde, dou comigo a pensar em relação aos textos que só têm versão digital: «Eu devia pensar em fazer com eles um livro!».
            Sim, a edição em papel equivale ao corte de umas tantas árvores e lá estamos nós a matar o ambiente!... Pergunto-me, porém, se é mesmo o papel gasto em livros o principal responsável pelo rápido e progressivo desaparecimento da floresta original. Será?

                                                           José d’Encarnação
 
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 681, 15-03-2016, p. 12.

1 comentário:

  1. Margarida Lino
    Não quero acreditar que algum dia vamos ficar sem livros em papel! Em minha casa, há livros por todo o lado, não há espaço para muitas outras coisas. Mas garanto que não são histórias cor-de-rosa, entre eles estão alguns teus, de que gosto imenso. Bjs!

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