domingo, 5 de julho de 2015

Uma Luta que… lutou até ao fim!

            Será seguramente uma história a contar, no quadro da economia cascalense. Uma vista de olhos pela imprensa local dos anos 60 e seguintes dará, sem dúvida, uma panorâmica exacta do que foi a luta dos comerciantes cascalenses, numa época em que o aparecimento ou a previsão de virem a aparecer as chamadas «grandes superfícies» ameaçavam pôr em causa negócios que, até aí, se situavam predominantemente ao nível familiar.
            Primeiro, foi o Pão de Açúcar (hoje, Jumbo, do grupo Auchan), que veio instalar-se mesmo no coração da vila, dir-se-ia, e que, por isso mesmo, na medida em que iria comprar por atacado e, logicamente, a menor custo, acabaria por aliciar a clientela, com os apregoados preços baixos. Já nessa altura os diversos padeiros do concelho se haviam juntado na União Panificadora de Cascais e construído, em Alvide, uma fábrica que visava satisfazer todas as necessidades da população em termos de abastecimento. Praticamente todas as pequenas padarias encerraram, para unir esforços, ou as que se mantiveram – como foi o caso da chamada do «Paulino», na Rua Afonso Sanches – começaram a ter funções complementares à fábrica de Alvide.
            O exemplo tanto da Panificadora como a apregoada circunstância de uma grande superfície poder comprar por atacado levaram os principais comerciantes da vila a encetar negociações no sentido de se reunirem numa cooperativa que lhes permitisse minorar os efeitos seguramente deletérios dessa concorrência que não tinham podido evitar. Recorde-se que, anos antes do 25 de Abril, ganhara o movimento cooperativo grande incremento, não apenas no domínio económico mas também no educativo e cultural.
            E, se bem o pensaram, melhor o fizeram, mau grado todas as desconfianças e dificuldades. Assim surgiu a Luta, como cooperativa de abastecimento nomeadamente no âmbito alimentar. Foi um dos seus principais mentores António Bernardino de Almeida, que tinha loja de electrodomésticos na Rua do Regimento 19. A sua acção pioneira seria justamente reconhecida pelo Município, que lhe atribuiu nome de rotunda, à entrada da vila, junto ao Bairro da Assunção.
            Para além da manutenção das suas lojas, os comerciantes acabaram também por optar pela criação de um supermercado, como forma de lutarem com os mesmos meios contra a concorrência crescente. Assim se criou o supermercado na Quinta da Carreira e, em Alcoitão, à saída para Manique, nasceram os armazéns aonde diariamente o movimento foi cada vez maior e inclusive havia bomba de gasolina com desconto para os associados. Esse edifício passou a estar, naturalmente, no quotidiano das gentes do concelho e daí que a rotunda - hoje decorada com tubagens num ‘hino’ às pequenas indústrias que paulatinamente se instalaram nessa estrada de Manique - passou a ser vulgarmente conhecida por ‘rotunda da Luta’.
            Qual não foi, pois, o nosso espanto quando, há dias, o letreiro LUTA deu lugar a um gigantesco CASA CHINA.
            Compreendemos. A Luta lutara até ao fim; mas… sucumbiu perante os poderes maiores.
            Compreendemos, sim; mas lá que temos muita pena isso é que temos!

                                                    José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal¸5-07-2015:

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