quinta-feira, 2 de julho de 2015

A celebração do 10 de Junho!

            Uma sensação estranha, de facto. Quando não há o papel que a gente agarra, tem-se a impressão de que tudo se esvai num ápice, alojado como está (dizem!) nessa quase inexplicável ‘nuvem’. Sabemos que fica lá, porque – por enquanto – vamos tendo as chaves para entrar; ocorre, por vezes, interrogar-nos: «E se eles mudarem a fechadura?». É que, na verdade, mesmo num mundo muito mais real como é o das cassetes de vídeo, nós temo-las, sabemos que há fados dentro, mas… já não há os instrumentos para de lá arrancarmos as vozes!...
            Assim, alguém me dizia: «Não há jornais em Cascais, nada se sabe, não há notícias!». O certo é que as há, minuto a minuto, nas chamadas ‘redes sociais’, inacessíveis, porém, a muito mais gente do que aquela que nos querem fazer crer.
            Vêm estas considerações a propósito das muitas iniciativas que por Cascais ocorrem e que ora passam para a posteridade apenas através das formais ‘informações à imprensa’. Quero, pois, hoje, evocar o que foram as celebrações do 10 de Junho.

Uma tradição da Propaganda
            «Foi no ano de 1980, faz agora 35 anos, que esta Sociedade iniciou a sua presença junto da estátua do Poeta, celebrando aquele dia com a deposição de coroas de flores e convidando para estarem ao nosso lado entidades oficiais e particulares, os nossos sócios e a população em geral», escreveu Joaquim Aguiar, presidente da Sociedade Propaganda de Cascais, no convite enviado.
            Um ritual. E, nessa qualidade, há que cumpri-lo.
            Acorreram ao chamamento, além do Povo, algumas entidades e foi significativo (não se pode pedir muito!...) o número de estandartes que emolduraram o quadro.

A cerimónia na Praça 5 de Outubro
            À Praça 5 de Outubro, onde se situam os Paços do Concelho, foram chegando as bandas: a da Sociedade Musical Sportiva Alvidense, a da Sociedade de Instrução e Recreio de Janes e Malveira, a da Sociedade Recreativa e Familiar da Malveira da Serra e a da Sociedade Recreativa e Musical de Carcavelos. Como que vieram dos quatro cantos da vila e foi emocionante a parada, nomeadamente porque chegaram e tocaram uma peça à sua escolha.
            Ao som do hino nacional, lá subiram as três bandeiras (a portuguesa, a do concelho e a da União Europeia) nos mastros do edifício camarário, cuidadosamente içadas pelo Sr. Presidente da Câmara, por uma senhora e por um senhor, cada um a sua. O Sr. Presidente, o Povo conhece; os outros dois ouvimos ao nosso lado perguntar quem eram. Eu explico: foi o senhor presidente da Assembleia Municipal, Jaime Roque de Pinho d'Almeida, do Grupo Municipal do CDS-PP (poucos cascalenses se terão apercebido que esse cargo já não é exercido por António Pires de Lima); e a senhora é Paula Alexandra Alves Mateus Ferreira Dias Gomes da Silva, vereadora pelo PPD/PSD.
            Melhor se andou (permita-se-me o comentário) na noite do dia 7, em que se evocou a ‘Cascais fadista’ de há 50 anos e tudo foi anunciado a preceito para se saber. Se calhar, para o próximo 10 de Junho, talvez não fosse mau dar trabalho aos nossos sempre atenciosos e mui eficazes elementos das Relações Públicas, que até têm boa voz para se fazerem entender, e eles explicavam tudo tintim por tintim.

A cerimónia no Largo Camões
            Fez-se caminhada depois, atrás da fanfarra dos Bombeiros da vila, para o Largo Camões, ora bem recheadinho de esplanadas…

            A bandeira já se içara noutro lado (dantes, era mesmo junto à estátua que se içava, porque a homenagem era a Camões); por isso, perfiladas as entidades e os estandartes, tocou a fanfarra um alerta (parece que é assim que se diz) e foi a ritual deposição de coroas de flores: avançou a senhora presidente da Freguesia de S. Domingos de Rana, a direcção da Propaganda e, por fim, o Sr. Presidente da Câmara.
            Verifiquei mais tarde que se fizera, de seguida, pequeno concerto no «largo da Câmara». Nunca sou previsto nestas andanças e perdi, inclusive, a oportunidade de saber quem tinha tocado, quanto mais o que tocara! Sei que houve música e assim se celebrou o nosso épico, que, reza a tradição, terá dito, ao morrer, a 10 de Junho de 1580, «ao menos morro com a Pátria», pois os Espanhóis invadiram-nos, precisamente desembarcados ali para as bandas da Guia e por cá ficaram 60 aninhos. Dizem os entendidos que a História se repete; não enxergo, porém, nenhuma perspectiva de virmos a ser dominados de novo pelos nossos vizinhos, ainda que, de facto, em muitos dos pacotes de géneros alimentícios que compro hajam pespegado rótulo em castelhano e o português em segundo lugar e eu nunca sei se é para português pôr o pezinho lá ou para espanhol manter o dele cá dentro. Logo se verá!
                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 99, 01-07-2015, p. 6.

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