domingo, 3 de maio de 2015

A viajar pelos meandros da História…

            De há uns anos a esta parte que o nome de Angelina Pereira se encontra visceralmente ligado à investigação arqueológica do território de S. Brás de Alportel.
            Palmilhou-o miudamente em todas as direcções, na busca dos mais ínfimos vestígios de um passado remoto. Completou a leitura do terreno com muitas leituras outras, desde artigos da especialidade que a ajudaram na identificação desses vestígios (objectos ou estruturas) a livros de História geral, detendo-se com mais pormenor, como não podia deixar de ser, nas obras que directamente se prendiam com a história local e regional. Obteve, assim, amplíssima bagagem não apenas para o enquadramento histórico da ‘sua’ Calçadinha (seguramente, a ‘menina dos seus olhos’), mas para colocar Alportel e S. Brás e S. Brás de Alportel no contexto da história portuguesa.
            Com tantos conhecimentos adquiridos, não é fácil propor uma viagem breve por esses meandros da História. Dizer dos materiais líticos pré-históricos; da sítula romana de bronze e do epitáfio da ossonobense Cecília Marina; dos topónimos árabes e do poeta Ibn Ammâr; dos primeiros tempos medievais perdidos na noite dos tempos; de uma S. Brás, aninhada no debrum da Serra, que parece nada ter reagido à epopeia dos Descobrimentos (tudo lhe passará ao largo, parece… Escravos vendiam-se em Lagos, não por ali)… Houve, porém, palácio aonde vinha veranear o senhor bispo do Algarve quando a sede episcopal saiu de Silves e veio para a vizinha Faro – e esse é, porventura, um mote a futuramente potenciar: «Até os senhores bispos apreciavam nossos ares!».
            Realça-se o papel excepcional que a produção da cortiça desempenhou, quer como fautor de libertação em relação a Faro, quer, de seguida, sobrevindo a crise, qual motor de migração para terras alentejanas ou da Beira-Tejo, onde esse gérmen o génio são-brasense lograra auspiciosamente fazer desabrochar.
            Dos canteiros pouco se fala; contudo, ao propor itinerário pelo centro histórico e também pelos sítios derredor, não se esquece Angelina Pereira de chamar a atenção para o lavrado das cantarias, uma das pérolas que abraçam dois monumentos prenhes de história: a secular igreja matriz e o assombroso Museu do Trajo, assim chamado por ter nascido de uma colecção de trajos, mas que é, na actualidade, escrínio onde se guardam e se revitalizam mui ancestrais tradições!
            Alvejam ainda nos cumes, aqui e além, o moinho branco e o preto, aos pares; por entre os bem variegados verdes vegetais, assoma-se rendilhada chaminé datada; junto à ermida de S. Brás pernoitariam outrora os romeiros, antes de se abalançarem à penosa travessia da Serra; e nas fontes, ora de cara lavada, há lugar para a necessária pausa dum frenesim quotidiano: «Não sei se cantam, se choram / As fontes, correndo ao mar; / Se canto, sinto que cantam; / Mas, se choro, oiço-as chorar!»…
            Por aí vamos, pois, com Angelina Pereira, em demanda do que, na verdade, não nos deixará de surpreender.
            Breve a história, sim; demorada será, porém, sua saborosa degustação!

                                                                       José d'Encarnação

            Prefácio a Breve História de S. Brás de Alportel, de Angelina Pereira, Edição da Câmara Municipal de S. Brás de Alportel, Abril de 2015, p. 9-10. ISBN: 078-989-96916-3-6.

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