quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

À mão de semear

             Está por aí um andaço de gripe que nem calculas! O melhor é mesmo atalhar já com um café bem quente e um cálice de bom medronho. Tens por aí algum à mão de semear?
            Estás a referir-te ao medronho, claro, que ele cafezinho aqui há sempre! Não te preocupes, eu vou ali à da Ti Marquinhas e, de caminho, dou de vaia ao Joquinito e trago-te uma garrafita de um que ele lá tem e que é um estalo!
            Fiquei a pensar na frase que me saiu: «à mão de semear». Felizmente que a dirigira a um velho como eu, que sabe dessas modas antigas e não estranha. Se estivesse a falar a um catraio, não sei se perceberia qual o seu real significado, de uma tradição agrária ora quase perdida. Quiçá a imagem não, que nos alembramos logo da parábola evangélica do semeador; e revivemos mentalmente o gesto largo da mão que lança as sementes, depois de, solerte, as ter ido buscar ao saco de serapilheira a tiracolo… E, logo atrás, o macho atrelado à grade, para recatadamente aconchegar o grão no rego que o arado abrira e que urgia tapar, não fossem pardais ou mui sorrateiras arvelas comer o que, meses depois, em espiga farta haveria de sorrir…
            «À mão de semear»: assim a jeito, para melhor desembaraço, que não há tempo a perder!

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 193, Fevereiro de 2015, p. 10.

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