quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Um «Corpo de Luz» encheu o Olga Cadaval!

            Foram três as sessões que encheram, na tarde e noite de sábado, 10 de Janeiro, o Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, para apresentação das classes de dança das Academias Ai! A Dança de Sintra I e II, Loures I e II, Santa Iria I e II, Pontinha, assim como de escolas com quem as academias celebraram protocolos e, também, outras escolas convidadas. «Corpo de Luz» foi o título dado ao espectáculo, tema que serviu, adiante-se desde já, para breve rábula cómica, destinada a descontrair e com o qual se celebrou a luz «fonte de inspiração divina e de respiração humana».
            Ao todo, mais de 700 pessoas (entre alunos e professores, vários até mais do que uma vez) estiveram em palco e, na verdade, impressiona o ‘quadro’ final, nos agradecimentos, em que, desde os mais pequenininhos de três anos (que deliciaram familiares e espectadores) aos que, de idade mais ‘entradota’ (70 anos), também consideram ser a dança uma actividade a que com muitas vantagens podem dedicar-se nos tempos livres, dadas as inúmeras potencialidades que representa como formação total da personalidade, tanto física como psiquicamente. Só quem não compreende o quanto a dança contribui para desanuviar da tensão quotidiana e para uma educação total de crianças, de jovens e de adultos é que se interrogará acerca da sua utilidade prática nos tempos escalavradamente positivistas em que estamos envolvidos. Bem anda, pois, o dinâmico entusiasmo de Lucília Bahleixo e seus directos colaboradores para levarem a bom porto este barco, contra ventos e adversas marés.
            Esse é, sem dúvida, o primordial aspecto a salientar: o da educação pela integração, desde mui tenra idade, mesmo para quem se julgue trôpego ou seja diferente – porque, também aqui, na diferença reside a riqueza!...
            Valsas, bailados clássicos em pontas, salsa, pontapeado, o sempre azougado hip hop, as sevilhanas vistosas, o orgulhoso flamenco, a sensual dança do ventre… tudo acompanhado por bem adequada banda sonora e ajustadas projecções visuais preencheram as duas horas de um espectáculo (assisti à 1ª sessão, das 15.30 h.) que teve Cristina Pereira como directora de cena, Pedro Rua como director técnico, Rui Braga na luz, para além, obviamente das maquilhadoras e das figurinistas.
            Apreciei de modo especial o quadro de abertura, dedicado ao enternecedor mistério da maternidade, protagonizado por uma mãe verdadeira quase no termo da gravidez, que, assim, em tocante realidade, nos manifestou, dançando, a doçura de trazer no ventre quem, porventura daqui a uns anos, acabará por pisar o palco também.
            Foram duas horas, num espectáculo em que os quadros se encadeavam uns nos outros, sem hiatos nem compassos de espera. Doutra forma não poderia ser, para possibilitar a todos a oportunidade de mostrarem quanto tinham aprendido. E talvez aqui resida uma reflexão que peço licença para sugerir, atendendo ao enorme êxito que as Academias Ai! A Dança estão, felizmente, a ter. É que, sobretudo se pensarmos nos mais pequeninos, duas horas é muito. E como em todos os ‘núcleos’ há as mesmas modalidades, os espectadores vêem-nas repetidas, se bem que com outros dançarinos (há, sobretudo, dançarinas – e seria interessante uma campanha para que os jovens do sexo masculino acorressem também…) e com diferentes figurinos e coreografias. A possibilidade de, em vez de um só espectáculo, em três sessões (bem sei que têm alinhamento distinto), se pensar em mais é capaz de ser uma hipótese não descabida.
            Mas que um espectáculo assim ainda merece um aplauso maior isso é que bem no merece! E é, na verdade, um encanto demorar, por exemplo, o olhar naquela pequenina além, toda entusiasmada, balançando-se, numa delícia… Pode não seguir exactamente os gestos e os passos que a professora faz e ela, observando-os, tenta imitar; pode, a dado momento – tal como o guitarrista que acompanha um fado parte por montes e vales a ensaiar outros ritmos… –, ir por aí além, em nova desenvoltura… Mas tenho a certeza de que estar ali lhe deu um gozo enorme, lhe encheu o peito de orgulho e, nessa noite, dormiu muito melhor e teve sonhos de bailar!...

Publicado em Cyberjornal, 2015-01-13:

2 comentários:

  1. Um belo texto que descreve com exactidão o que foi este espectáculo. Amei cada momento que foi único e mágico, dando justiça ao nome em que a luz intensa imanada em cada actuação iluminava o coração da plateia que viajava a par com os protagonistas numa aventura de emoções positivas. Muitos parabéns a todos.

    ResponderEliminar
  2. Brutal, este texto passa tudo o que se sente quando se ve um expetaculo destes com tantos bailarinos de todas as idades. Pena que não ha-ja mais ajudas para escolas e alunos poderem praticar mais, terem tempo para aprender a parte tecnica...de alguma forma participei no Ai a dança e amei todos os bocadinhos ate aqueles que me fizeram sofrer, porque tornou me mais forte e fez me crescer.

    ResponderEliminar