quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Citius, mídia & Cia. Ilimitada

             Anda por aí tudo em bolandas, porque trasladaram processos judiciais de uns tribunais para outros, física e digitalmente, e, afinal, chegou-se à conclusão que muito se fizera atabalhoadamente e o sistema citius não funcionara a contento.
            Virá, pois, a propósito, uma divagação sobre o significado da palavra, que, de quando em vez, vem acompanhada de outras duas: altius e fortius, trilogia que desde há muito se adoptou como mote para os Jogos Olímpicos, onde cada atleta procura ser mais rápido, chegar mais alto e ser mais forte. Citius é, na verdade, um advérbio de modo, latino, no grau comparativo, e significa «mais velozmente». Ao que parece, nessa história dos tribunais, o tiro saiu pela culatra e foi tudo mais devagarinho, parado…
            Folgo, pois, como docente de uma disciplina, a Epigrafia Latina, em que o Latim é, para mim, quotidiano, que se haja buscado um significativo advérbio latino para identificar um programa informático – que se espera venha rapidamente a cumprir os seus objectivos.
            Escrevi «objectivos» com c, porque me declaro contrário ao chamado «novo acordo ortográfico», o qual, ao invés do Ministério da Justiça, atirou o latim às urtigas. Objectivo é com c porque assim o determina a sua etimologia. Os senhores que gizaram o tal de acordo é que nem se importaram muito com isso, parece.
            Claro, toda esta discussão do citius tem enchido páginas e páginas dos meios de comunicação social e virá, por isso, a propósito, referir que a palavra genérica e simples que identifica os meios de Comunicação Social é ‘media’. Pese muito embora o chamado Dicionário da Academia declarar que a palavra vem do inglês, o certo é que ela é mesmo muito latina: ‘media’, em latim, significa ‘meios’, no sentido de ‘instrumentos’, ‘objectos com determinada finalidade’. Portanto, deve escrever-se ‘media’ (em itálico ou com vírgulas altas) e nunca ler mídia, à inglesa. A não ser que se opte – como os nossos irmãos brasileiros, sempre tão práticos e pressurosos nestas coisas… – por escrever mesmo mídia, que é a forma do português do Brasil. Não nos vão cair os parentes na lama; contudo, vergamo-nos perante uma moda que não respeita a história da língua e que, em certa medida, a desvirtua.

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 647, 01-10-2014, p. 11.

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