sexta-feira, 11 de julho de 2014

Pronto, lá vem ele aos gangueões!

             ‒ Pronto! Não tem juízo nenhum, é sempre assim ao sábado, não resiste! Emborca um copo ali, outro acolá, parece que quer logo cabo da semanada toda e vem por aí acima aos gangueões, que nem se endireita! Qualquer dia, fica-se-me para ali, espojado, que nem besta em dia de se coçar!...
            Aos gangueões: aos ziguezagues, mal se tendo nas pernas, almareado, não conseguindo acertar com uma caminhada em linha recta.
            É a língua portuguesa de uma riqueza inaudita em relação a nomes a dar à bebedeira. Tem, seguramente, mais de cem! Gangão é um deles – e daí pode ter derivado o provincianismo algarvio ganguear.
            Um dos dicionários que consultei aponta, porém, ganguear como provincianismo alentejano e diz que significa ‘ir de gangão’, ou seja, ainda segundo o mesmo dicionário, ‘de escantilhão’, ‘de corrida’. Mas ir aos gangueões nada tem de correr, não!
            Sugere-se que a palavra possa ter vindo do alemão «gang», que tem o sentido genérico de «marcha». Estou em crer que sim. Contudo, não deixarei de referir que – será coincidência? – em latim há o termo ‘ganea’, que é nada mais nada menos que… ora veja-se só: taberna, orgia, boa mesa!...
            E, com isto tudo, acabei também eu por… ir aos gangueões na conversa!

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 186, Julho de 2014, p. 10.

 

 

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