sábado, 28 de junho de 2014

Continua a revolucionar!

            Na sua 51.ª edição, saída pelo Natal, dedicada à poesia, a revista Egoísta, editada pela Estoril-Sol, o seu director, Mário Assis Ferreira, punha a tónica na «ressurreição». Creio que por, afinal, a sua denodada luta em prol do enorme gesto de Cultura que a revista representa ter logrado convencer quem de direito que a publicação granjeara a liberdade de existir. Ficara suspensa, à espera de dias melhores, e o Natal foi bom pretexto para reaparecer, com um tema adequado: haverá melhor inspiração poética que a quadra natalícia?
Design foi premiado
            E se bem pensada foi, melhor foi ainda a recompensa, pois que, soube-se em Abril, arrecadou mais um galardão: o Grande Prémio Papies de Design.
            Para se compreender o significado da distinção, há que referir o que é. Todos os anos, a Pixelpower, editora da revista doPAPEL, sediada em Santo António dos Cavaleiros, lança o concurso Papies, destinado a premiar publicações em 23 categorias: 8 na categoria ‘Produtos’ (revistas, livros, jornais nacionais…); 10 na categoria suportes e tecnologias; e 5 distinções: ambiente, design, inovação gráfica, empresa gráfica do ano e personalidade gráfica do ano. O concurso deste ano (Papies 2014) galardoaria publicações vindas a lume entre 1 de Abril de 2013 e 30 de Março de 2014.
            A Egoísta arrebatou, pois, o Grande Prémio na categoria design, que partilhou com a ‘Expresso Revista’, da Impresa Publishing, impressa pela Lisgráfica. Salientou-se, por conseguinte, o excelente trabalho levado a efeito pelo Atelier 004 / Estoril Sol, bem coadjuvado pela excelência da impressão, da responsabilidade da Norprint.
            Aos que estamos habituados a serenamente compulsar a revista, o prémio – o 63º já arrecadado pela revista, até hoje, atribuídos tanto por entidades portuguesas como por estrangeiras – não surpreende, porque… cada edição nos deixa sempre perplexos pela enorme originalidade da sua concepção. Falamos do aspecto gráfico – que sobre o conteúdo, sempre da responsabilidade de vultos grandes da Cultura portuguesa, não há um senão a apontar.

A revolução de Abril
            Esta 52ª edição, datada de Abril de 2014, quis associar-se, naturalmente, às comemorações dos 40 anos do 25 de Abril. E o tema é, por conseguinte, como se disse, “Revolucionar”.
            Primeiro, dir-se-á que a capa está, à partida, «integralmente fechada, sendo necessário rasgá-la para explorar o seu interior». Revolucionar, sim, mas devagar, que uma revolução como deve ser tem de ostentar conta, peso e medida!...
            Confessa Assis Ferreira, no editorial, que ora, passados estes 40 anos, é capaz de já não se saber exactamente o que foi: se «uma Revolução, um Golpe de Estado, ou uma Insurreição Militar. Nem sei se, tão apenas, foi um regime moribundo, exausto de si próprio, em expiação de cair à simples visão de uma “Chaimite”…». E, depois de sublinhar que «pouco importa essa catalogação», porque «na História sempre existem três leituras para cada episódio relevante: quando acontece, quando é escrito e quando são compreendidas as suas consequências», agora, que já vamos compreendendo as consequências – as que queríamos e as (outras muitas!) jamais desejadas!... ‒ «é tempo de agradecer esse sopro de Liberdade que, de início, nos embriagou, mas que o tempo soube sazonar em maturidade responsável», conclui. E há que concordar.
            Mais um número, por conseguinte, para guardar «na prateleira», assim sempre à mão de semear para, de quando em quando, nos deleitarmos com os textos e as imagens.
            Desta feita, temos, mais ou menos, os nomes que é costume pontificarem nas páginas da revista, pois ao primor da escrita aliam o rigor e a profundidade da reflexão. Entre outros: a Lídia Jorge (do consagrado O Dia dos Prodígios, não esqueçamos!), o Manuel Alegre (que, num dos poemas, grita «contra as palavras que não são de aqui», abençoado, oxalá ele consiga que a sua luta tenha êxito!...), a Teolinda Gersão (com um excerto de «Paisagem com mulher e mar ao fundo»), o João Tordo (que acaba por confessar que se deu conta de que, sozinho, não é feliz nem é livre)…
            E há a reflexiva entrevista concedida por Eduardo Lourenço a Ana Sousa Dias, com o título «Liberdade é uma luta sem fim» e onde, a dado passo, se proclama que «liberdade sem preço não é liberdade». E as soberbas fotografias de Alfredo Cunha, explicadas nos ‘bastidores’ de um Abril de há 40 anos atrás – que, apesar de tudo, temos orgulho em recordar. E esta edição da Egoísta colabora eficazmente nessa evocação.

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 51, 25-06-2014, p. 6.

 

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