segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Repreendi uma estudante!

             Não resisti: em duas linhas, oito palavras, erros em três! E estudante do 2º ano de uma licenciatura!... Na mensagem de resposta, repreendi-a severamente, porque ela bem sabia que não era isso que eu ensinara durante as aulas, mas sim a necessidade de fazer bem o que havia a fazer, mesmo que fosse redigir uma mensagem singela e era essa atenção que fazia toda a diferença (como hoje se diz!...) entre a competência e o deixa-andar.
            «Professor», respondeu-me a Catarina, pouco tempo depois, «desculpe, mas a tecla do g do meu computador já não funciona, o s também não, é um computador muito velhinho!»…
            Pus a mão na consciência. A repreensão estava dada, não me arrependia, mas, claro, respondi que, assim, as falhas estavam desculpadas. Contudo, dei comigo a pensar, mais uma vez, no que é o mundo actual, este, por exemplo, que os anúncios televisivos nos apresentam com smartphones e outras palavras estranhas para a maioria do público. Qual interactividade, qual acesso rápido à Internet, qual intervenção ‘em tempo real’!?... Para quem?
            Sim, o meu neto de cinco anos ou a minha neta de sete ‘dão-me cartas’ a mexer nos telemóveis, mas… quem há aí que tenha disponibilidade para aceder rapidamente, por exemplo, à página de um Município, para ver a programação cultural ou, simplesmente, para aceder às actas da reunião do Executivo da semana passada? Estarão, aliás, bem acessíveis nessa página, onde vem tudo e mais alguma coisa, menos – habitualmente – aquilo que a gente precisa de saber?
            Recebo de algumas Câmaras o respectivo Boletim Municipal em papel. E lá vem, normalmente em páginas destacáveis, a síntese das deliberações tomadas nas últimas reuniões. Quantas Câmaras o fazem? E não é essa uma determinação legal? Como se quer uma «democracia participativa» (expressão que enche a boca…), se à população se não fornecem de forma ágil os resultados da governação?
            E quem diz Câmaras diz instituições. Ainda outro dia, o António disse a um amigo: «Olha, vou fazer uma conferência aí, se quiseres aparecer…». E o amigo de nada sabia, porque… o anúncio da conferência estava… na página da associação promotora! Mas quem diria que era preciso ir lá ver?
            Vivem os governos europeus nesse paradigma dos dois mundos: o real e o virtual, convencidos de que todos os ‘súbditos’ (sim, somos ‘súbditos’, deixámos de ser ‘cidadãos’…) estão endinheirados. Aliás, não temos todos nós montes de euros para dar de comer ao automóvel topo de gama com que nos vão obsequiar?!...

Publicado em Renascimento (quinzenário de Mangualde), nº 633, 15-02-2014, p. 11.

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