terça-feira, 1 de outubro de 2013

A gente de 60 anos!

            Pessoa que se preza dá, de quando em vez, uma vista de olhos pelas redes sociais e, de resto, não deita de imediato para o caixote de lixo aquelas mensagens que circulam, circulam, circulam… e nos enchem a caixa do correio electrónico. E, depois, há sempre um título que mais nos desperta a atenção antes de carregarmos no botão que dita a sentença de morte – e a esperteza do autor reside nisso mesmo: a de despertar curiosidade!
            Permita-me, pois, que partilhe uma dessas mensagens fora do comum. Porventura já a recebeu e, se não está na idade dos 60 ou lá por perto (a mais ou a menos), é capaz de nem sequer a ter lido. Digo-lhe, porém, que vale a pena. Se estiver nessa faixa etária, para se consciencializar do que vale; se já a ultrapassou, porque vale ainda mais; se tiver menos, para se lembrar de pais e avós que nela estão. E… se for político ou candidato a essa profissão, para que, um dia, quando estiver assim mais voltado para a reflexão (sim, eu sei, são muito poucos esses dias, mas lá há-de calhar algum…), possa pensar nisso muito a sério.
            Uma precaução, primeiro: neste momento da pesquisa, desconhece-se o seu autor. Na verdade, é dado como escrito pela antropóloga Mirian Goldenberg, professora do Departamento de Antropologia Cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituto onde, por sinal, já por diversas vezes tive a honra de leccionar; no entanto, Mirian Goldenberg explica noutro local que gosta da palavra “velho” e acha «importante usá-la para combater o estigma que cerca a velhice» e que, embora algumas das ideias expressas no texto até coincidam com o que ela pensa (a antropóloga acaba de lançar o livro A Bela Velhice), estoutro, de facto, não lhe pertence.
            Certo é, porém, que, em busca de autor e sob o título «Sexalescentes», termo plasmado por analogia com ‘adolescentes’ e que ali se pretende venha a substituir o quase depreciativo «sexagenário», porque essa geração, opina-se, simplesmente não tem «nos seus planos deixar-se envelhecer», o texto está a correr mundo.
            E, em jeito de aperitivo, transcrevo duas passagens, que retirei de http://revistastravaganza.com.br/index.php/por-ai/414-sexalescentes:
            «[…] Alguns nem sonham em aposentar-se. E os que já se aposentaram gozam plenamente cada dia sem medo do ócio ou solidão. Desfrutam a situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, preocupações, fracassos e sucessos, sabe bem olhar para o mar sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro de sua janela. […] Escrevem aos filhos que estão longe e até se esquecem do velho telefone para contatar os amigos – mandam e-mails com as suas notícias, ideias e vivências».
            «Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto ou dos que ostentam um terno Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de uma modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência. […] Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios...».

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 624, 01-10-2013, p. 12.

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