terça-feira, 23 de julho de 2013

Na prateleira - 4

            É já quase lugar-comum atribuir a um general romano a frase: «Há, nos confins da Ibéria, um povo que nem se governa nem deixa governar-se!». Referia-se, ao que parece, aos Lusitanos, dos quais reza a tradição, que não a História, directamente descende o Povo Português.
            Acho a afirmação deveras injusta. Primeiro, porque, no dia-a-dia, o que mais vemos é quem, mui diligentemente, saiba governar-se – e bem! Isso torna-se mais notório na classe vulgarmente dita «política»; mas poder-se-iam aduzir exemplos mil, a todos os níveis, de como a máxima a todos por igual se poderia aplicar. E, em segundo lugar, é bem refinada mentira, pois essa observação se ajusta a muitos povos que não apenas aos da Ibéria! E recordo, desde logo, aquela velhinha trémula, sentada e mísera, na passagem para a «grande superfície», a suscitar comiseração imensa e que já terá sido vista, elegantemente vestida e desempoeirada, a passear-se noutras paragens. Não se governa a senhora, aparentemente oriunda da Europa Central?
            A questão prende-se mais com a obediência a regras – a que somos renitentes por natureza, ainda não se fez a lei e já estudámos as 1001 maneiras de a ludibriar, quando não é o próprio texto da lei susceptível de 1001 interpretações, a fim de… se estar sempre na mó de cima, ora bem! Veja-se o caso daquele sobre a impossibilidade de alguém voltar a candidatar-se a mandato camarário, após ter exercido o cargo três mandatos seguidos. A confusão que anda por aí e não há meio (nem vontade, diga-se!...) de clarificar o pretendido…
            Perdi-me, confesso, nestas considerações, porque apenas queria exemplificar tudo isso com um caso bem comezinho, de mui difícil compreensão mas verdadeiro: a Praceta Padre Marçal da Silveira (no Bairro da Pampilheira, em Cascais), onde está a loja da Cozinha com Alma e uma creche/infantário, tem ampla placa central relvada. Num dos postes de iluminação há um distribuidor de saquinhos para recolha de dejectos caninos, como aliás, outros dois há na Rua Mário Clarel anexa. Então não é que essa verdejante placa está sempre ornamentada com os ditos? Sete, oito, nove… Diariamente! Não, não são cãezinhos vadios os que lá vão, são mesmo aqueles que os senhores donos e donas levam pela trela a passear. E não é um consolo vê-los aproveitarem-se da relvinha fresca e sadia? Os saquinhos estão ali bem à vista; os senhores donos e donas têm olhos na cara e mesmo jovens que são alguns já sofrem (coitados!) de bicos-de-papagaio: doem-me tanto as costas! E, depois, já viu? Apanhar o dejecto? Que nojo!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 7, 17-07-2013, p. 6.

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