sábado, 18 de maio de 2013

Adormecer ou… ligar o turbo!

           Era por um desses belos dias de Verão. Almoçara-se no restaurante do antigo seminário e subira-se calmamente, a saborear o bem cheiroso fresco das tílias, com destino à Sala dos Frescos do vetusto e altaneiro palácio episcopal, não sem, antes, se espraiar a vista até ao Adriático lá no horizonte e à República de San Marino vagamente visível também.
            Iniciou a sessão uma senhora. Lia pausadamente, monocórdica. Cinco minutos depois, metade dos assistentes começou a cochilar, mau grado o evidente interesse do tema, resultado de longas horas de investigação. As palavras da senhora soavam a canção de embalar, a ritmo compassado.
            A dado momento, porém, fez pausa maior. Um dos congressistas deu conta, acordou e desatou a bater palmas. Contagiou. Foi o aplauso geral!
            Mas…
            … a senhora não acabara, de facto. Ao aplauso sucederam, pois, mal contidas gargalhadas. A senhora, porém, retomou o discurso onde fizera a pausa maior e continuou na mesma lengalenga durante mais seis longuíssimos e penosos minutos, como se nada tivesse acontecido.
            Mais anos eu viva, não esquecerei o episódio, que me serve para explicar aos estudantes que, numa reunião científica, há duas regras fundamentais: o religioso respeito pelo tempo que nos é destinado e… falar para que nos oiçam e entendam. Não adianta «ligar o turbo», teimar em meter o Rossio na Rua da Betesga! Assentar nas ideias fundamentais e inovadoras a apresentar, claramente, sucintamente, pausadamente, prendendo a atenção!
Por isso tive pena, outro dia, quando o senhor – certamente uma sumidade na matéria – foi repetindo várias vezes, durante os 45 minutos em que falou, que «tinha muito mais coisas para dizer, mas o tempo não chegava, o tempo não chegava» – e a organização pedira-lhe que preparasse uma intervenção para… quinze minutos!
 
Publicado no jornal Renascimento [Mangualde], nº 616, 15-05-2013, p. 12.

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