sexta-feira, 29 de março de 2013

Espólio do «Jornal da Costa do Sol» dá entrada no Arquivo Municipal

            Para além de outras, uma das primeiras preocupações que tive, após o inesperado encerramento do Jornal da Costa do Sol (última edição publicada a 14 de Janeiro de 2010), foi a de procurar acautelar o seu espólio.
            Na verdade, nascido a 25 de Abril de 1964, Jornal da Costa do Sol continha no seu arquivo toda a história de Cascais e também de Oeiras, quer em textos, quer em documentação, quer em imagens, desde essa época, porque acompanhava semanalmente o que de significativo se passava nesses concelhos.
            Toda a colecção dos jornais está, é certo, disponível na biblioteca municipal; contudo, para além da notícia que se faz, há as imagens que se guardam e se seleccionam, a correspondência… Infelizmente, porém, parte bem volumosa desse espólio já levara descaminho antes de – por deferência do proprietário do imóvel, Vilar Gomes – os funcionários da Câmara terem metido ombros à tarefa de juntar o que havia.
            Logo após o 25 de Abril, haviam desaparecido, por exemplo, as provas de censura, que era um dos arquivos mais interessantes de que se dispunha, por mostrarem, na realidade, como funcionava o «lápis azul» – e Jornal da Costa do Sol era, nas vésperas do 25 de Abril, juntamente com o Jornal da Madeira, o Jornal do Fundão, o Notícias da Amadora, obrigado a mostrar aos censores provas de página, porque… ‘eles’ não confiavam em nós!...
            Recorde-se que, na altura da chamada «Primavera marcelista», escrevia no Jornal da Costa do Sol Magalhães Mota, que fazia o relato das sessões da Assembleia Nacional, amiúde censurado, como o seriam também os textos, também sobre a Assembleia, saídos da pena de Viriato Dias em 1972. Aliás, por ser feito na mesma tipografia – a Mirandela – em que se começou a fazer o Expresso, houve sempre uma grande ligação entre as equipas e Francisco Pinto Balsemão chegou a assumir a direcção do jornal, de Março a Julho de 1976, uma experiência ‘profissionalizante’ que acabaria por não dar resultado e os membros da equipa anterior houveram por bem regressar e recomeçar a publicação a 10 de Dezembro desse ano.

Um observador atento da actividade autárquica
            Foi habitualmente «semanário dos concelhos de Cascais e de Oeiras», à excepção de 1981, em que, por dificuldades financeiras, se publicou quinzenalmente.
            Exerceram os seus redactores, sem peias, uma função de cidadania, o que nem sempre quadrava bem ao poder autárquico instituído, com o qual o relacionamento – como frequentemente acontece, por esse Portugal além, entre as autarquias e a Comunicação Social local – se procurou manter isento de partidarismos, mas difícil. Por exemplo, com Georges Dargent e, nomeadamente, com António Capucho, a tensão foi constante, indo ao ponto de haver ordem expressa para ao jornal não ser proporcionada publicidade, mesmo a institucional.
            Asfixiado, encerrou portas, como se disse, sem mais nem menos, no princípio de 2010. Os accionistas de Publigráfica, SARL, a empresa proprietária, não tiveram possibilidade de agir, dados os fortes condicionalismos económicos a que se chegara e, desde então, o nosso receio era de que, de um momento para o outro, entrassem por ali adentro os agentes judiciais e despejassem, sem tir-te nem guar-te, um espólio histórico-documental ímpar.
            Moveram-se influências e, felizmente, podemos agora informar que, mercê delas, a documentação ainda disponível acaba de dar entrada no Arquivo Municipal, onde será devidamente tratada, a fim de vir a ser colocada ao alcance dos investigadores, porque – sem receio de errar o afirmo – não pode fazer-se a história de Cascais (e de Oeiras) nas últimas cinco décadas, sem uma leitura atenta das páginas do Jornal da Costa do Sol, do que nelas se escreve e do que nelas não se pôde escrever e se subentende.
            E eu (perdoe-se-me a primeira pessoa), que (quase ininterruptamente) fiz parte do ‘projecto’ (como hoje se diz), desde Outubro de 1967 até final (mais de quarenta anos!...), particularmente me congratulo, como jornalista e como historiador, por as negociações terem obtido o resultado que ora – pela pronta informação que me foi disponibilizada pelo Dr. António Carvalho, irmanado comigo nestas preocupações histórico-patrimoniais – tenho o gosto de anunciar.

Publicado em Cyberjornal, 2013-03-29:

3 comentários:

  1. Caro Zé,
    Parabéns por este texto, que desperta as saudades que tenho do Jornal da Costa do Sol, e pela tua meritória iniciativa de pôr a salvo o seu espólio em local adequado,o que, decerto, constituirá um valioso recurso de consulta para quem quiser pesquisar sobre o passado recente dos concelhos de Cascais e Oeiras - e não só.
    Não deixo de lamentar a extinção do Jornal da Costa do Sol e de sentir o falta que ele faz, como voz independente de afirmação cívica.
    Obrigado, Zé, pela tua acção,
    Jorge Miranda

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  2. Se há, como penso, um imenso fundo de verdade na afirmação de que «somos o que fazemos», será também esta afirmação fato que assenta que nem luva no que respeita à relevância da salvaguarda deste espólio. Por nós, claro. Mas muito também para quem nos suceda.
    Assim, aqui fica também o meu eco das anteriores oportunas palavras de Jorge Miranda. Eco com chapelada e aplauso, que são mui justamente devidos a quem tanto porfia por que sejamos melhores por melhor fazermos.
    Grande abraço, caro professor José d'Encarnação.

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  3. olha...uma noticia boa! Ena, já não estava habituado!
    abraço, José!
    carlos peres feio

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