quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Há aposentos e… aposentos!

            Quando me aposentei, fiz questão em dizer aos que tiveram a gentileza de me acompanhar no jantar que assinalou esse momento da minha vida, que me recolhia aos meus aposentos mas… a porta ficava aberta!
            Já passaram mais de cinco anos, as portas continuam abertas e muita gente por lá tem entrado e saído e a partir de lá continuo, felizmente, activo.
            Estabeleceu-se, de novo, a discussão acerca do montante das pensões de reforma. Claro que se pretende falar – mas não se fala – das tais pensões milionárias ou as daqueles que, até 2005, ocuparam funções políticas durante meia dúzia de anos e auferem hoje boas maquias mensais, que acumulam, aliás, com outras funções, pois que ‘saíram’ bastante novos e ainda têm, portanto, forças ‘que importa aproveitar’…
            Pôr tudo no mesmo saco é, porém, imoral, como toda a gente sabe e proclama. E quando o senhor deputado centrista Hélder Amaral, por exemplo, declara que os reformados “têm um dever de solidariedade” para com o País, embora compreenda que “não tenham culpa do actual sistema de contribuições fiscais”, considerando ainda normal que “tivessem reais expectativas em relação ao seu futuro” e acrescentando que o Governo terá de encontrar um “equilíbrio justo” para que essas pessoas dêem o seu “contributo ao País”, à semelhança do que sucede com o conjunto da sociedade portuguesa, o senhor deputado não tem a menor ideia do que significa usar generalizações como essa. Aliás, eu duvido até que ele saiba o real significado de algumas das palavras que usa. O mesmo se diga do chefe do Executivo que criticou, a 16 de Dezembro, «os reformados que recebem pensões mais elevadas, advogando a necessidade de que estes procedam a um maior contributo para o Estado».
            Desça do pedestal, senhor deputado! Desça do pedestal, senhor Passos Coelho! Venham ver, na realidade, como é que as reformas de grande maioria dos portugueses (ia a escrever «dos vossos súbditos»…) estão a servir, neste momento, de indispensável apoio a tantos pais septuagenários, octogenários e nonagenários, a tantos filhos sem emprego, a tantos netos que estão, de facto, ao seu cuidado! Venham!
            Desçam do pedestal, meninos, e venham ver como se come o pão que o Diabo amassou, na classe média que Vossemecês estão apostados a destruir ainda mais, sem se aperceberem do que isso significa, porque… nunca estudaram História nem sabem, por isso, como rebentam as revoluções!

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 607, 01-01-2013, p. 3.

1 comentário:

  1. Concordo e gosto do seu comentário já tantas vezes tenho lido sobre este assunto. Tb sou reformada e sinto-me igualmente traída e abandalhada não só pelo governo que nos desgoverna ma principalmente pela maioria dos deputados que constituem a nossa AR. Ignorantes e vendidos ao sistema. E olhe que eu não sou de esquerda... sou até bem portuguesa. Saudações Inês Monteiro

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