terça-feira, 30 de outubro de 2012

E havia peças de roupa passeio afora…

            Chocou-me, há dias, numa ‘grande superfície’, o jovem casal estrangeiro que experimentava sapatos. Tirou uma série deles das prateleiras, experimentou-os, não levou nenhum e deixou-os todos no chão do corredor, que é como quem diz «Eles têm empregados para repor tudo no sítio!». Têm, de facto; eu interroguei-me, porém, sobre o género de casa deste casal: se teriam filhos para educar, criadas para irem colocando no lugar os seus desvarios... Nem ousei chamar-lhes a atenção; confesso, apenas, o meu pecado: deu-me ganas, naquele momento, de ter poderes para os recambiar de pronto para a sua terra de origem.
            Não sou minimamente contra os estrangeiros; sempre procurei acolhê-los da melhor forma, porque a isso fui educado, dado que sempre convivi com estrangeiros aqui em Cascais e, agora, na minha terra natal, S. Brás de Alportel, a nossa preocupação reside em ver que boa parte da grande comunidade estrangeira ali radicada está a pensar regressar ao seu país de origem, atendendo à brutal carestia de vida e ao crescente clima de insegurança que por cá também já se vive.
            Ocorreu-me a cena do jovem casal quando presenciei uma outra. Junto a um dos receptores de lixo do bem agradável jardim da Rua Aquilino Ribeiro que dá, em S. João do Estoril, para uma praceta sem nome e sem saída, alguém depositou um saco com roupa. A intenção seria, decerto, que ela pudesse ainda ser útil a alguém. Na terça-feira, 9 de Outubro, pelas 10 horas, havia peças de roupa espalhadas pelo chão. Pelo aspecto, roupas em boas condições, prontas a ser usadas depois de uma lavagem normal. Eu estava no carro, a ler, e passaram duas senhoras:
            E vale a pena a gente dar alguma coisa? Olha aquilo ali tudo espalhado pelo chão! – E apontava com a sombrinha, abanando a cabeça: «Não vale!».
            No dia seguinte, mais ou menos à mesma hora, a cena foi outra. As peças de roupa ainda continuavam pela relva, mas um casal (por sinal também com sotaque estrangeiro) que andava na distribuição de panfletos publicitários, pegou nalgumas e, à medida que caminhavam, iam procedendo à escolha. Não consegui ver se terão ficado com alguma peça; creio que não; mas que várias foram semeadas pelo passeio posso garantir…
            Dir-me-ão: mas isso não é assim, tem de se ir a uma instituição! Pois. Não sei como é agora, mas já passei por uma – e a roupa acumulava-se nas prateleiras até ao tecto, porque… não houvera ainda quem se tivesse disponibilizado para proceder a uma selecção criteriosa. E mais: garante-me a Joaquina que já viu com os próprios olhos ir gente a uma instituição, trazer coisas e aventar parte delas para a beira do caminho, algumas dezenas de metros mais adiante…

Publicado em Jornal de Cascais, nº 324, 24.10.2012, p. 6.

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