quinta-feira, 5 de julho de 2012

Andarilhanças 50

«Museu» do Canteiro
      Nunca será de mais salientar a importância que deteve a iniciativa de, no âmbito das festas populares de Tires, se reconstituir o ambiente do trabalho da pedra, desde a sua extracção até ao mais fino objecto.
      «Tires, terra de canteiros» foi o tema e não há dúvida que vale a pena recordar o que foi essa actividade, florescente ainda na 2ª metade do século XX e que ora vai desaparecendo, devido a serem outras as motivações e mui diversos os processos.
      Aquando  da inauguração, que contou com presença do Sr. Presidente da Câmara, no dia 8 de Junho, foram dadas explicações e houve, inclusive, encenação de alguns dos momentos marcantes da faina diária de antanho: o frémito do acender do rastilho para o tiro; a hora do almoço na lancheira trazida pela mulher; as andanças do aguadeiro; o aguçar da ferramenta na pedra de amolar; as combinações para o balho de domingo num catrapiscar de moças namoradeiras…
      Enfim, a criação de um ambiente que a maior parte das pessoas de agora desconheciam por completo e cuja memória urge salvaguardar. O monumento que erguemos na rotunda de Birre, na freguesia de Cascais, mostra o azulino cascalense como pólo de imigração de algarvios, alcains, coimbrões; evoca agora Tires, na freguesia de S. Domingos de Rana, a tradição saloia, que de braços abertos aceitou quem veio de fora. Ergueu-se singelo monumento numa rotunda da povoação, como se sabe; contudo, o entusiasmo que a iniciativa ora concretizada revelou não pode ser descurado e há que pensar num pólo museológico ali. Vontades particulares não faltam; verbas não serão necessárias muitas; vontades públicas há que incentivar!
      Para já, como filho de cabouqueiro que nas pedreiras viveu a sua meninice e parte da juventude, não posso deixar de muito me congratular com o que vi! Parabéns!

Jogos Tradicionais
      Depois do grande encontro nacional, o 5º, que reuniu dezenas de praticantes no Parque Marechal Carmona, nos dias 19 e 20 de Maio, João Mounier, alma-máter do JOTRA (Jogos Tradicionais), ligado ao Agrupamento de Escolas de Alvide, decidiu sair para o Jardim Visconde da Luz, no coração da vila, no passado 10 de Junho, a proporcionar a todos, velhos e novos, a aventura de verificarem se ainda sabem pegar numa gancheta e correr com o arco, se se recordam de como se joga o pião ou ao burro…
Também para ele um forte aplauso de parabéns – pela carolice, pelo entusiasmo, pela extrema dedicação. Dele e de toda a equipa, naturalmente.

Vender quartos ou emoções
      Não resisto a voltar a comentar o que aprendi na jornada que reuniu, na Escola Hoteleira, a 8 de Maio, pessoas interessadas em reflectir sobre o fenómeno turístico, no seu passado, presente e futuro. Apreciei sobretudo, repito, aquela ideia de os hotéis deverem doravante não apenas preocupar-se em vender quartos mas sim… «emoções».
      E lembrei-me da ideia quando, outro dia, ao entregar a chave do quarto, a menina me perguntou se eu me tinha servido da garrafa de água que estava sobre a mesa. Disse-lhe que não e expliquei que por dois motivos: primeiro, porque cada vez mais preferia beber a água da torneira; segundo, porque, mesmo que outro fosse o meu hábito, ao ver o papel pendurado no gargalo com o preço de 1 euro, eu perdi ainda mais a vontade de beber. Claro que apreciei o bloquinho para os apontamentos e o lápis (cada vez se usa mais…) e trouxe-os como recordação; no entanto, dei comigo a pensar naquela imagem que fora transmitida na tal jornada: um miminho proporcionado ao cliente acaba por o cativar e dar-lhe vontade de voltar. Agora, o papel com 1 € pespegado em realce no gargalo da garrafa… não é que, de vez em quando, me lembro dele?                    
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 317, 04.07.2012, p. 6].

Sem comentários:

Enviar um comentário