quinta-feira, 7 de junho de 2012

A marota linguagem infantil

            Amiúde se não dará importância às falas das crianças, no pátio da escola ou nas suas brincadeiras. Aí se reflectem, porém, com mais frequência do que se imagina, frases que ouvem dos adultos e que veiculam uma sabedoria quotidiana que os livros não trazem ou, ainda, um sabor picante, malandreco, que lhes sabe bem porque sai da normalidade imposta pelos adultos.
            Há já literatura e, até, projectos (no Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, por exemplo) sobre o tema; e decerto os dois exemplos que vou citar são capazes, até, de ser basto conhecidos. Um dado, porém, a reter é a facilidade com que essas frases têm rima, como se tal fosse a forma mais corrente de se afirmarem sentenças lapidares.
            Um diálogo:
– Em que estás a pensar?
– Nada!
– Pois quem nada não se afoga!
Uma situação:
Nos chafarizes, havia a torneira ou a bica, cuja água alimentava também a grande pia destinada a bebedouro de animais. E não era raro, quando um miúdo ia beber, outro assobiar, como era costume para as bestas. Depois de se dessedentar, o menino arisco não hesitava:
- Já bubi e sobejou para a grande besta que me assobiou!     

Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 161 (Junho 2012) p. 10.

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