sábado, 28 de abril de 2012

A crise que é de paradigma!


    Gizara-se uma Europa unida, à moda do antigo Império Romano. Na mira de evitar assimetrias, legislou-se uma aparente uniformização, mormente no que concerne à produção, pois – queira-se ou não! – era (e é!...) o dinheiro a alma do negócio.
     Distribuíram-se, pois, subsídios a rodos: para arrancar vinhas, para arrancar oliveiras, para não cultivar as terras, para… plantar quivis! Ah! Mas, daí a uns tempos, vieram verbas para plantar vinhas, arrancar quivis, plantar olivais!... O desaforo pegado, dinheiro deitado à rua, produção por completo estagnada, que, tal como em tempo do ouro, do Sr. D. João V, o Magnânimo, trabalhar, afinal, nem era preciso! E incentivou-se a compra de casa; com o dinheiro de arrancar árvores (que porventura se não arrancavam…) compraram-se jipes, televisores magníficos. E os bancos emprestavam sem complicações de maior.
     O que se passava ao nível do Povo anónimo, passava-se – a um escalão exponencialmente maior – entre os políticos recém-chegados: «Vou gastar uns milharezitos para renovar o mobiliário do meu gabinete, não gosto do que o meu antecessor deixou». «Ah! E vamos mudar os nomes dos ministérios!» – e toca a deitar para o lixo todos os impressos anteriores; estes logótipos estão ultrapassados e vamos adoptar novos, encomendados (por alguns milhares!) àquela empresa de marketing e imagem nossa conhecida (sabes?)!...
       Gastou-se, gastou-se... Endividou-se o Povo e o País! Portugal e a Europa!
       Crise vem duma palavra grega (quem diria?), ‘crísê’, que, além de ‘cisão’, ‘desequilíbrio’, ‘precipício’, também significa… discernimento! Discernimento não houve e… estava-se mesmo a ver que o precipício se abriria; que este paradigma de ver números e não ver as pessoas, de privilegiar o ‘ter’ ao ‘ser’ daria com os burrinhos na água na primeira oportunidade! Era só uma questão de tempo!...
        Bastava ter estudado História, disciplina que os tecnocratas desconhecem.
      Agora, aqui d’el-rei! Não há trabalho (e muito menos emprego!), porque, para aguentar o barco, se diminuem salários, se corta nas férias e nos respectivos subsídios, se aumenta o IVA… Tudo para o ‘lucro’ imediato, consignado nas estatísticas, mas não consignado na realidade, porque – e todos o compreendem! – aumentando o IVA, diminui o consumo, aumenta a economia paralela e diminuem, consequentemente, as verbas que, eufemisticamente, o Estado proclamava que iria receber!
        Como resolver?
      Mudando de paradigma! Lançando ao desprezo e desmascarando as (assim chamadas) agências de rating, fiéis correias de transmissão do capitalismo exacerbado. Tratando os cidadãos como pessoas!  
       Enquanto as medidas adoptadas forem exclusivamente economicistas, o precipício abrir-se-á cada vez mais, inelutável, e arrastará tudo e todos para o abismo – donde outro paradigma, humanista, forçosamente terá de surgir! Em Portugal, na Alemanha, nos EUA, no mundo!... Se as loucuras governamentais não continuarem, ainda há tempo para retroceder; se continuarem, Fénix terá de renascer das cinzas!                                                   

Publicado em Portugal-Post [Hamburgo], nº 51, Maio de 2012, p. 13-14
[versão portuguesa com tradução em Alemão].

1 comentário:

  1. Cumprimentos.
    A propósito acrescentarei, se me permite,o meu sentimento de tristeza com o que alguns ( maus )compatriotas em conluio com gente da estranja ambos com responsabilidades empresariais e não só fizeram a nós todos, aqui em Cascais.A um desses até foi dado nome de avenida no Estoril.Normal em tempos cujo deus é o dinheiro e o diabo é não o ter.Sinto asco por tal gentalha.Agrada-me saber que não sou único.Por curiosidade sr:dr: a data de sua mensagem não está algo estranha? Maio 2012 ?
    Aceite um aperto de mão afectuoso.
    Zé.

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