quinta-feira, 1 de março de 2012

Teoria e prática

Escreveu António Tavares no livro Ernesto L. Matias, Lda., a que me referi na edição de 1 de Fevereiro:
«Podemos concluir que a Ernesto L. Matias, Lda. possui uma cultura organizacional estruturante, pese embora não haja uma consciência assumida desse facto» (p. 43).
Explica-se em nota que se pretende explicitar que existe na empresa um «conjunto de valores, práticas, atitudes e métodos de trabalho e de relacionamento que caracterizam intrinsecamente a organização e a aperfeiçoam no ponto de vista orgânico e de funcionamento».
Essa constatação fez-me lembrar três situações da minha vida.
Um dia, nos primórdios da década de 70, Águeda Sena cumprimentou-me porque eu estava a aplicar nas aulas as teorias de Jean Piaget, quando poucos ainda as aplicavam em Portugal. Corri a ver os meus apontamentos de Ciências Pedagógicas, para tentar saber o que, de facto, eu estava a fazer sem disso ter consciência!
A propósito do título do meu livro Cascais – Paisagem com Pessoas dentro, recebi do Brasil uma congratulação:
«Parabéns também pelo título. Vejo que o amigo seguiu a ideia de paisagem/espaço social se preocupando com a representação dos marcos espaciais no cotidiano das pessoas, não é?»
Nunca pensara nisso, confesso! Apenas que, por detrás de uma paisagem, estão pessoas e são elas que, para mim, importam. Expliquei isso ao meu interlocutor, que retorquiu: «És um auto-didata. Sacou as preocupações que os teóricos gastam livros e livros para tentar explicar. Digo tentar porque enrolam muito. Nada como a objetividade dos epigrafistas.»
E, também recentemente, dei conta, num artigo, das diligências para chegar à decifração de inscrições aparentemente indecifráveis. Comentário do responsável pela revista onde está prevista a publicação:
«O texto enviado constitui um conjunto de estratos históricos interessantíssimos a todos os níveis que se encontram num conjunto cuja metodologia de análise quase que poderemos classificar de cripto-epigrafia (a construção conceptual de cripto-história da arte) que recupera o sentido indiciário como um caminho para a fonte total».
Pasmei! Nunca pensara nisso!

Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 588, 01-03-2012, p. 13.

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