segunda-feira, 26 de março de 2012

Já não se faz e, se calhar, também não se ensina!

Peço perdão se volto à monografia da fábrica Ernesto L. Matias, Lda., que nos tem ocupado. É que a sua leitura acabou por me sugerir mais uma reflexão, a propósito da frase: «Hoje já não se praticam os actos de convívio que eram uma marca do fundador: convívios, passeios e excursões a vários pontos turísticos do país» (p. 41).
E será, decerto, por isso que o autor, ao apontar pistas de futuro, ousa sugerir:
«[…] É de considerar acções que acentuem mais a aproximação de todos os elementos da empresa, nomeadamente a comemoração de efemérides: dia da fundação da empresa, aniversário do fundador, felicitar o trabalhador no dia do seu aniversário, entre outros» (p. 45).
Iniciativas que, em seu entender, «teriam um papel de entusiasmo, de motivação adicional, o que poderia traduzir-se num maior envolvimento do funcionário com os objectivos gerais de produção da firma e aumentar a própria produtividade de cada trabalhador» (p. 46).
É bom que tal se proclame em alta voz e amplamente se reconheça! Porquê? Porque são muito outras – e por tal motivo candidatas ao mais rotundo fracasso… – as teorias dos que ora nos mandam por essa Europa:
«Excursões, comezainas, gozo de feriados?!... Estão loucos, seus utópicos duma figa! Mais uns diazinhos de férias como recompensa a quem nunca faltou e se empenhou o ano inteiro? Qual quê! Que mordomia essa!? Acabe-se já com isso! Trabalhar, trabalhar, trabalhar!».
Pois é. Esquecem-se que não estão a lidar com autómatos mas sim com pessoas que sentem, que pensam, que têm uma vida!... Pessoas para quem apreciar um lindo pôr-do-sol repousante em tranquilidade pode ser – é! – eficaz meio de ganhar forças e boa motivação para as tarefas a enfrentar no dia seguinte.
Isso, porém, de «pôr-do-sol», de «tranquilidade» não se ensina já nos compêndios nem nas aulas nem se ouve nos discursos! Seria coisa de… gente efeminada, quando o País é bem latino, mediterrânico, macho, pois então!...
Coitados!
Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 589, 15-03-2012, p. 13.

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