quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A nossa costela moura

É por de mais sabido que, no âmbito dos termos concretos, muitas das palavras do nosso quotidiano radicam directamente em vocábulos árabes. Homens do deserto, habituados a olhar bem para o que estava à sua volta e a dar-lhe o nome que melhor o caracterizava, isso transmitiram às gentes com as quais entraram em contacto. Daí também a grande riqueza vocabular do Algarve e do Alentejo, onde o al ou o a iniciais disso são o reflexo mais comum: alguidar, alfinete, almocreve… E até o nosso Alportel se assinala como «a porta» de entrada para a travessia da Serra!
Temos, pois, uma costela moura vocabular.
Curioso, porém, ver como, no dia-a-dia, há estranhas formas de pronunciar as palavras que por vezes nos escapam, tão habituados estamos a ouvi-las e, até, se calhar, a dessa forma as pronunciarmos. Veja-se o caso da palavra azeitona: quantos de nós, na fala corrente em S. Brás, perguntamos: «Tem azeitonas?»? Todos? Talvez não. O mais corrente não é: «Tem zeitonas?»? Exacto: agimos de forma erudita, na fala de todos os dias, porque a palavra árabe é «zaitun»; o a inicial equivale ao artigo definido ‘a’!...
Afinal, neste, como noutros casos, a erudição saiu à rua e connosco quer continuar a conviver!

Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 157 (Fevereiro 2012) p. 10.

Sem comentários:

Enviar um comentário