sábado, 14 de janeiro de 2012

Andarilhanças 30

Jacinta Bugalhão
Em artigo publicado na Agenda Cultural de Cascais nº 54 (Janeiro/Fevereiro 2012), p. 87, manifesta-se regozijo pelo facto de estar organizada a «Reserva Arqueológica Municipal».
Trata-se, na verdade, de um importante passo em frente no que concerne à salvaguarda e arrumação do «espólio representativo da ocupação humana desta área desde a Pré-histórica até à actualidade». Justo é, pois, o regozijo, que inteiramente partilho, até porque, à medida que o tempo passa, mais longínqua vejo a hipótese de o concelho de Cascais vir a ter, um dia, um núcleo museológico (já desisti de pedir um museu, cansei-me de promessas…) dedicado aos singulares vestígios arqueológicos nele encontrados.
Permita-se-me, porém, salientar o relevante papel desempenhado nessa ‘arrumação’ pela Dra. Jacinta Bugalhão que, vinda do IGESPAR para a CMC em regime de comissão de serviço, regressou agora ao seu lugar de origem, também devido à reestruturação dos serviços camarários.
Não pode negar-se que tal regresso constitui significativa perda para a Câmara, uma vez que a Dra. Jacinta Bugalhão, no espaço de tempo (três anos e pouco) em que exerceu funções de Chefe de Divisão do Departamento de Património reimprimiu a essa Divisão invulgar dinamismo e maior capacidade de intervenção, nomeadamente pugnando pela intransigente defesa não apenas do património cultural em geral, mas do património edificado e arqueológico em particular, contra o facilitismo de uma política a que vulgarmente se dá, em Cascais, o nome de “patobravismo”, a que uma autarquia nunca pode estar vergada. Sabemos que não é nada fácil para um político estar do lado do Património Cultural; essa a principal razão para ser tão difícil o trabalho dos arqueólogos: estamos sempre no caminho dos poderosos; e, neste caso como noutros, não bastam as palavras de circunstância e os discursos proferidos publicamente…
Agradecemos, pois, a Jacinta Bugalhão o intenso e exemplar trabalho aqui desenvolvido e desejamos-lhe o maior êxito no desempenho das funções no IGESPAR, onde (também sabemos) nem sempre se navega em mar de rosas…

As boas-festas da Propaganda
É bem agradável hábito a Sociedade Propaganda de Cascais brindar-nos, pelas festas, com um postal ilustrado a reproduzir antigo recanto cascalense. Este ano, foi o Passeio D. Maria Pia (em 1940, «Esplanada Infante Luís Filipe») que serviu de pretexto para uma evocação acerca do nascimento do Club Naval de Cascais, resultante do que foi a Secção Náutica Afonso Sanches, criada a 2 de Fevereiro de 1938 no seio da Propaganda. Em Outubro de 1939, a Secção passou a ter a designação de Club Náutico Afonso Sanches e, em Setembro de 1940, Club Naval de Cascais.
Curioso verificar como, nas décadas subsequentes, nunca mais o Club se lembrou do seu berço, dando até a impressão de ter sempre ficado de costas voltadas para a entidade que o ajudou a dar os primeiros passos, ainda que ambas as instituições prossigam o mesmo objectivo, cada uma no seu campo de actividade: «contribuir para a projecção de Cascais no país e no mundo».

«Cai Água» nº 26 – Dezembro 2011
Este boletim do dinâmico Núcleo de Amigos de S. Pedro do Estoril chama a atenção, no editorial, assinado pela sua presidente, Manuela Duarte, para a quantidade de flores que, nas varandas da povoação, dão cor à nossa vida. A multiplicidade de tons das buganvílias, por exemplo! Verbera-se a presença de muito lixo; lamenta-se a não-conclusão da obra do jardim-de-infância, adormecida por mais uma insolvência, a da firma a que fora adjudicada (triste sina dos nossos dias!..). Dão-se notícias e acalenta-se o projecto das «Hortas de S. Pedro».

São gente, pessoas não!
Passada mais uma quadra natalícia, prenhe sempre de boas intenções e de enormes vontades de se tornar o mundo melhor, de ‘boas festas’ que se desejam ou não, de braços que se estendem ou, ao invés, não se mexem, de olhares que nem sequer poisam na vida… e não resisti a pensar:
«Gente, porque pertencem ao género humano; pessoas não são, porque não têm capacidade de exprimir sentimentos. Não conhecem os colaboradores; não têm noção do que sói dizer-se em dia de aniversário ou de festa; não sabem o significado da palavra “reconhecimento”. Autómatos em que o fabricante se esqueceu de instalar um cérebro. Também por isso não devem saber o que é felicidade – que pena!».
Daí que a mim mesmo tenha jurado: a minha paisagem há-de ter sempre pessoas dentro!

[Publicado no Jornal de Cascais, nº 296, 11-01-2012, p. 4].

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