terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A singularidade do «Lugar ao Sul»

Na sua coluna «Coisas e Loisas» da edição de Setembro de Noticias de S. Braz, evocou J. P. da Cruz o programa da Antena 1 «Lugar ao Sul», de Rafael Correia:

«Com o gravador ao ombro, percorria todo o interior algarvio e o Baixo Alentejo para entrevistar gente castiça, com talentos diversos: poetas populares, contadores de histórias, artesãos e até experiências de vida».

Confessa J. P. da Cruz que era «um ouvinte fanático». Eram, de facto, muitos milhares esses ‘fanáticos’, que viam nesse programa algo de muito diferente do que se fazia em rádio, mormente porque assim se dava voz a um Portugal profundo, lídimo, muito nosso, e se registavam dados que, doutra forma, definitivamente se perderiam na noite dos tempos.
Alcançada a idade da reforma, Rafael Correia largou tudo da mão, fugiu do mundo e, por mais que o tentássemos convencer a manter-se por mais uns tempos – no que a administração da RDP acabou por não ver inconveniente, tanta foi a pressão feita nesse sentido – Rafael Correia não se deixou demover.
Criou-se, na altura, na Internet um grupo de pressão, ainda hoje activo, liderado pelo incansável dinamismo de Álvaro José Ferreira, os Amigos do Lugar ao Sul – http://groups.google.com/group/lugar-ao-sul –, que lutou sem tréguas para que tão singular repertório não só não se perdesse como voltasse à antena. Luta que tem tido altos e baixos, porque nem todos os responsáveis da RDP compreendem o interesse do programa e, se calhar, urbanos como são na sua quase totalidade, irritam-se ao ouvir falar algarvio e alentejano; não compreendem o valor da poesia popular; não imaginam o que é contar em verso a história de Portugal nem como é delicioso manjar o doce caseiro feito pela Ti Marquinhas em aldeia perdida nas dobras da Serra do Caldeirão...
Conseguiu-se que, em repetição, o programa voltasse para o ar. Nem sempre a horas próprias para consumo (dantes, era pelas manhãs de sábado e regalávamo-nos com esse genuíno começo de fim-de-semana), mas… está de novo no ar, a partir das 7 horas de sábado! E pode ser ouvido também na página da RDP na Internet.
Estamos satisfeitos por a batalha ter sido ganha e consola ler o comentário de Adelino Gomes – que, enquanto Provedor do Ouvinte, cedo se apercebeu, pelas constantes mensagens que recebia, do interesse deste «prazer da conversa com Rafael Correia» – inserto nessa página da RDP:

«O mais belo programa da rádio jamais feito sobre a terra, as gentes, os costumes, a cultura do sul do continente português».

[Publicado em Notícias de S. Braz (S. Brás de Alportel), nº 181, 15 de Dezembro de 2011, p. 14].

1 comentário:

  1. Fico muito reconhecido a quem escreveu e publicou este texto. É mais um vívido testemunho da importância que o "Lugar ao Sul" teve (e tem) para muitas pessoas sensíveis e cultas do nosso país.
    Permito-me apenas sugerir uma rectificação ao texto: onde se lê "urbanos" devia estar "suburbanos". Os urbanos, por definição, são pessoas abertas e com sensibilidade para diferentes formas de expressão cultural. Os suburbanos (de mentalidade, não necessariamente habitantes dos subúrbios), ao invés, contentam-se com as coisas que os seus semelhantes bichos-do-betão produzem. Isso lhes basta e não precisam de mais nada! São desprovidos da salutar curiosidade intelectual de conhecer o que extravasa os limitados horizontes em que foram criados.

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