quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Os passos e as ‘passas’ de um mangualdense

Sob o título Passos e “Passas” de uma Vida, publicou José Manuel Azevedo e Silva a sua autobiografia (edição de autor, Coimbra, 2011).
Professor associado com agregação da Faculdade de Letras de Coimbra, onde esteve ligado ao Instituto de História da Expansão, o Doutor Azevedo e Silva jubilou-se a 30 de Maio de 2007, data em que perfez 70 anos, e decidiu passar a letra de forma o que fora o seu percurso. E fez bem.
Primeiro, porque, sendo natural de Tibaldinho (Alcafache, Mangualde), começou por ser agricultor, foi agente da polícia, professor, tocou em bandas, foi bancário e só aos 36 anos entrou na Universidade, tendo feito, portanto, todos os seus estudos a pulso, como trabalhador-estudante. Profetizara-lhe a professora primária (e nunca será de mais repetir a importância que os docentes do Ensino Básico detêm no ‘destino’ dos seus alunos) que ele «iria longe»; e vemo-lo a ingressar, em Abril de 1983 (aos 46 anos!), como assistente estagiário da Faculdade.
Para além deste exemplo de tenacidade, o livro – que tem uma segunda parte com o seu currículo pessoal e académico – explicita miudamente os contextos em que foi a sua vida, pelo que constitui, atendendo às mui pormenorizadas informações que fornece, fecundo manancial para a história local e regional (as famílias, as pessoas, as profissões, o tipo de economia…) e, por isso mesmo, até para a história nacional e das mentalidades, que dessas vivências particulares cronologicamente bem anotadas e geograficamente bem situadas carece de se alimentar. Note-se, por exemplo, que é um jovem de antes do 25 de Abril, cuja vida activa se desenrola já em pleno período revolucionário e pós-revolucionário, com especial destaque para a sua actividade como bancário e sindicalista.
Por todas as circunstâncias que a rodearam, trata-se, pois, de uma vida que poderemos considerar exemplar, tanto do ponto de vista profissional como do ponto de vista psicológico, uma vez que sempre o tem norteado um pensamento positivo, consubstanciado quiçá na devoção ao Anjo da Guarda, presente, aliás, de modo claro em ocasiões-chave da sua vida.

Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 583, 15-12-2011, p. 13.

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