sábado, 22 de outubro de 2011

Andarilhanças 20

Ter juízo
De formato reduzido (obviamente…), o número especial de Egoísta (revista da Estoril Sol) datado de Setembro é dedicado ao Juízo. Juízo no sentido mais corrente, manifestado na expressão «ter juízo». Nada mais oportuno, no momento em que tomamos consciência de que uns quantos inteligentes não tiveram juízo nenhum e a multidão dos outros há-de arcar com as consequências – e eles na boa!...64 páginas artisticamente ilustradas, a contar com a colaboração de reconhecidos escritores: Inês Pedrosa, Rui Zink, Vasco Graça Moura, Ricardo Costa, José Manuel Mendes, entre outros.
Recorte-se, como mensagem, o que o seu director, Mário Assis Ferreira, me escreveu, a propósito:
«Eu sei, pela sua intrínseca natureza, que o “Juízo” é um conceito relativo, subjectivo na sua valoração, falível nos seus resultados.
Mas bem pior que essa relatividade é a sua total ausência, quando as circunstâncias o exigem e o bom senso o reclama. E este é um difícil transe em que o “Juízo” se impõe.
Até porque, se não tivermos “Juízo”, outros nos obrigarão a tê-lo…».

Verão
Para registo com vista ao futuro, informe-se que uma vaga de calor – Verão em pleno Outono! – vem vestindo de gente as praias da Costa do Estoril. Mar de gente, mar chão, águas mornas, delícia de quantos – feliz ou infelizmente, consoante a situação em termos de emprego e de trabalho – ainda podem gratuitamente usufruir dessa benesse. Bem, gratuitamente, se calhar, não será, porque há por todo o lado os abutres dos parques de estacionamento pagos. No sábado, 1 de Outubro, a zona de Carcavelos (uma ainda privilegiada nesse sentido) não tinha para estacionamento 1 metro quadrado livre!

Creche
Praça João de Deus, Pampilheira. Cumpriu-se o que velhinho plano de urbanização previra: aquela praça com nome de pedagogo era para uma escola! Finalmente, conseguiu a Junta de Freguesia o necessário acordo com a Segurança Social e entregou à Santa Casa a gestão de mais uma creche.
Encantado, o Sr. Ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, por ter presidido à inauguração, no dia 11. Menos de quatro décadas antes tal fora e, mui provavelmente, ele próprio teria sido utente, pois que por aqui cresceu criança e jovem.
Regozijaram os moradores da Pampilheira, ao poderem abraçar alguém que de muito bom grado despiu as vestes do Poder, para voltar a ser vizinho! Cimentou-se comunidade – e foi bom!

Academia
Aproveitou a Academia de Letras e Artes a apresentação, no dia 13, de mais uma edição sua, desta feita com uma proposta de visita ao Estoril – descomprometido e singelo testemunho de vivências, sem qualquer pretensão de ser livro de História – para dar conta de como vem gerindo o subsídio que o Município anualmente lhe atribui. E fez muito bem!

O gigante tombou!

Certamente por se não encontrar de boa saúde, ou porque já fazia sombra de mais, a mui vetusto eucalipto do parque Marechal Carmona, com porte de mais de um metro de diâmetro, foi decretada a eutanásia. Teria, como se informou em comunicado, «elevada perigosidade e comprovado risco de queda». Cortaram-lhe o alto tronco em rodelas!...


Alenterra
Um outro livro sobre a guerra em Angola: Alenterra, de Rogério Pires de Carvalho.
Sugestivo o anonimato do narrador, em primeira pessoa, assim como o da ‘senhora’ a quem ele vai contando tudo o que lhe passou pela cabeça desde o dia em que embarcou até que iniciaram o regresso (nem todos, claro!), não sem um nó na garganta, por terem deixado atrás os dois canitos, inseparáveis companheiros dos longos dias dos longos dois anos em Mucondo… «Quanto mais conheço os homens…».
Não se relata apenas como um homem se pode ir transformando, até o simples sonho lhe ser impossível de ter. Nos muitos momentos de solidão, silêncio e medo, toda a vida do narrador ali perpassa, como um filme, desde que nasceu até que daqui o levaram.
Narrativa lancinante, esta – a prender-nos do princípio ao fim. Queremos saber tudo logo! Queremos consciencializar infinitos traumas. As cubatas incendiadas uma a uma. As fitas das metralhadoras despejadas num desespero. Guerra maldita – que jamais acabará na memória de quantos a viveram!

Publicado em Jornal de Cascais, nº 286, 19-10-2011, p. 4.

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