quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O topónimo Cascais

Continua a intrigar a origem do topónimo Cascais.
Para mim, trata-se do plural de cascal, querendo isso significar que, nas suas praias, abundavam as cascas de mariscos: mexilhões, lapas, amêijoas, ostras, búzios, caracóis… Não me admirei, por isso, quando encontrámos, na villa romana de Freiria, centenas de conchas de ostras; ou quando, na década de 60, o achado de bastantes conchas de múrex no povoado romano dos Casais Velhos levou os arqueólogos a considerarem a tinturaria como uma das actividades a que, aí, os romanos se dedicaram, até porque para tal serviriam as tinas com tampa hermética que lá se descobriram.
Guilherme Cardoso é, porém, de opinião que «aquilo que se sabe hoje e que é mais aceite no caso do nome de Cascais é provir do encascar as redes através de um banho obtido por uma infusão de casca da aroeira. Isto foi-me confirmado por vários pescadores […]». Encascar significa, de facto, «meter as redes de pesca em infusão de casca de árvores para as conservar e dar-lhes uma cor acastanhada»; mas, pergunto eu, nesse caso, só aqui é que haveria esse procedimento? Só este lugar teria merecido tal… honra toponímica?
Meu amigo Hans Daehnhardt perfilha outra opinião: cascas, sim, mas de pinheiro, desde a época pré-histórica! E estamos a investigar se, nessas remotas eras, já o pinheiro abundaria por aqui.
Corre na Internet outra história, que remonta aos tempos de el-rei D. Afonso Henriques, considerando que a primeira cena de «violência doméstica» (!) aqui teria ocorrido, quando D. Mafalda, sua mulher, apanhou dele uma bofetada, por ter levantado um pouco a saia para não se molhar, quando passeavam pela praia. E a rainha perguntou: «Senhor meu rei e esposo, porque me cascais?»…
Chalaça também pode parecer o que José Sarmento de Matos escreve na p. 211 do Livro I (As Chegadas) do seu livro A Invenção de Lisboa, edição da Temas e Debates, apresentado a 27 de Novembro de 2008, anunciado como «A história da cidade de Lisboa numa narrativa ficcionada».
Foi Margarida Ramalho que me apresentou essa página, onde se fala de um ‘berbere marroquino’, corsário «responsável por manter a ordem em todo o vasto sector marítimo a norte de Lisboa», Kaxkax de seu nome. Moraria «no bairro muçulmano de Alfama», mas… «tendo em atenção o seu nome, Kaxkax», acrescenta Sarmento de Matos, «apetece perguntar se este corsário destemido escolhe como poiso para a sua esquadra a última baía amena antes de entrar no Atlântico, conhecida como a baía de Cascais». Salientando a «proximidade sonora entre o seu nome e o do lugar, aliás de origem pouco esclarecida», o autor afirma que não consegue «deixar ao menos de acentuar essa intrigante afinidade de sons».
Que a baía é amena, sabemos; que por aqui, em todos os tempos, houve corsários e outras pilantragens temos indícios fortes; mas… Kaxkax é mesmo nome de gente? Diz o My Heritage que sim: um sobrenome e todos de Espanha! E terá sido daí (pergunto eu) que os franceses deram ao jogo das escondidas o nome de ‘cache-cache’? Que também por aqui há muito quem reine às escondidas, oh! se há!... Como o corsário reinaria.

Publicado no Jornal de Cascais, nº 247, 15-12-2010, p. 6.

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